domingo, 6 de julho de 2014

Política: começa a era da alucinação e da alegria



Não há Neymar na política

Aproximando-se o fim do sonho da Copa – aqui no sentido de encerramento do espetáculo monumental, acontecimento que encanta a mística do esporte no cotidiano do brasileiro – o país ingressa no período dos sonhos administrados pelos marqueteiros, adentra à fartura de anúncios, promessas, garantias e compromissos “seríssimos” assumidos com a sociedade, todos garantidos “perante a história”. Chegamos à campanha eleitoral. 

http://www.oprimeiroonline.com.br/index.php/lista-noticias/614-feriadao-de-comicios-em-cacequi.html
Serão, até o dia da votação, 89 dias de contatos em que os candidatos estarão de braços estendidos, mãos desejosas de apertos, sorrisos cintilantes para as criancinhas. Serão 89 dias de bondades, desapegos providenciais a preconceitos de classe, abandono tático de refinamento de hábitos. 

Ou seja: serão anunciados planos, projetos, grandezas. Obras irrealizáveis serão garantidas durante esse período alucinatório-delirante. Estas as bondades. 

Candidatos riquíssimos, homens acostumados a sorver régias doses de uísque, habitar o conforto de mansões, carros magníficos e iates deliciosos estarão aptos a beber a cachaça mais ralé num boteco de favela e a sentir o suor potente do negro que, à noite, vai trabalhar de vigia numa rua de bacanas. Assim ruem os preconceitos de classe e são esquecidos os hábitos requintados.

Trato aqui, claro, do lado farsesco da política, mas este é apenas uma de suas faces. Abordo-a como trama, acerto, jogada. Sei de outros aspectos, um deles a irrecusabilidade, a imperatividade do processo – que é cotidiano – e seu entranhamento à realidade histórica. 

Nenhuma sociedade é apolítica, mas é preciso advertir e lamentar o dado político da forma quando se dá em sua essência de farsa, negócio, quase vício; pecado público na vida pública. É necessário então, por causa disso, lembrar que em política não há nenhum Neymar - mas há muito colombiano disposto a quebrar a vértebra de quem se meter na frente.


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