Não há Neymar na política
Aproximando-se o fim do sonho
da Copa – aqui no sentido de encerramento do espetáculo monumental,
acontecimento que encanta a mística do esporte no cotidiano do brasileiro – o
país ingressa no período dos sonhos administrados pelos marqueteiros, adentra à
fartura de anúncios, promessas, garantias e compromissos “seríssimos” assumidos
com a sociedade, todos garantidos “perante a história”. Chegamos à campanha eleitoral.
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http://www.oprimeiroonline.com.br/index.php/lista-noticias/614-feriadao-de-comicios-em-cacequi.html |
Serão, até o dia da votação, 89
dias de contatos em que os candidatos estarão de braços estendidos, mãos
desejosas de apertos, sorrisos cintilantes para as criancinhas. Serão 89 dias
de bondades, desapegos providenciais a preconceitos de classe, abandono tático de
refinamento de hábitos.
Ou seja: serão anunciados planos,
projetos, grandezas. Obras irrealizáveis serão garantidas durante esse período alucinatório-delirante.
Estas as bondades.
Candidatos riquíssimos, homens
acostumados a sorver régias doses de uísque, habitar o conforto de mansões,
carros magníficos e iates deliciosos estarão aptos a beber a cachaça mais ralé
num boteco de favela e a sentir o suor potente do negro que, à noite, vai
trabalhar de vigia numa rua de bacanas. Assim ruem os preconceitos de classe e são
esquecidos os hábitos requintados.
Trato aqui, claro, do lado
farsesco da política, mas este é apenas uma de suas faces. Abordo-a como
trama, acerto, jogada. Sei de outros aspectos, um deles a irrecusabilidade, a
imperatividade do processo – que é cotidiano – e seu entranhamento à realidade
histórica.
Nenhuma sociedade é apolítica, mas é preciso advertir e lamentar o dado político da forma quando se
dá em sua essência de farsa, negócio, quase vício; pecado público na vida
pública. É necessário então, por causa disso, lembrar que em política não há nenhum
Neymar - mas há muito colombiano disposto a quebrar a vértebra de quem
se meter na frente.
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