sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Uma viagem e os Ministérios

Caetanópolis 
e os nossos sonhos

--- Walter Medeiros 
waltermedeiros@supercabo.com.br 

No rumo da Via Costeira, à nossa frente um ônibus nos traz boas lembranças de um
tempo em que alimentávamos certos sonhos, alguns realizados outros impedidos pelo
curso indomável da vida. Era um ônibus de turismo com a placa de Caetanópolis, Minas
Gerais. A maior lembrança naquele momento era de um churrasco que comemos naquela
cidade em um restaurante com bela decoração de bambu. Um churrasco inesquecível, num
ambiente que era um verdadeiro encanto. O lugar parecia o portal para um belo
futuro.

Até chegar àquele lugar de Minas Gerais onde passavam os ônibus de linha no rumo de
Brasília, havíamos – Graça e eu enfrentado dois dias de estrada a partir de Natal,
por Caicó e demais cidades por onde passavam os ônibus da Viação Planalto. Era a
viagem de retirantes que seguiam em busca de seus sonhos na capital federal. Ao
nosso lado um cidadão gordo com um neto de uns sete anos chamado Cristiano, que
comia tudo que se pode imaginar saído de uns sacos e pacientemente diziam que estava
perto de chegarem ao lar, em Itumbiara.

Redator da Rádio Planalto e free-lancer da Agência Apoio, depois de uma promessa de
emprego frustrada, eu insistia em ficar em Brasília. Graça havia ingressado no SESC
nacional como assistente social e se sentia realizada com atividades junto a idosos.
Morávamos numa casa de cômodos – suíte - da W3-Sul, 706, em frente à Casa do Pão e a
duzentos metros do Restaurante Espanhol. Para nós era melhor que a distância do
Guará, onde poderíamos ter alugado um apartamento até por menos que o preço que
pagávamos a seu Jonas, um paulista de sotaque carregado.

Aquela viagem em 1979 nos levou a acompanhar momentos importantes de Brasília, como
as manifestações de solidariedade aos presos políticos de Itamaracá, realizadas na
Praça Goiás toda semana; a primeira manifestação de professores do Governo do
Distrito Federal, onde minha falta de olfato por ser fumante me fez ficar parado
enquanto a multidão se dispersava, sem perceber o cheiro do gás lacrimogêneo aos
meus pés; a chegada da Anistia política; e as reações do regime militar.

Os parcos recursos de que dispúnhamos nos trouxeram o benefício de conhecer Brasília
e cercanias de forma espetacular. Todo fim de semana tínhamos uma cidade satélite
para visita e conviver com amigos. Dona Ceci, em Sobradinho; Arlete, secretária de
Henrique Eduardo Alves e seu marido, Pinto, no Núcleo Bandeirante; alguém do Gama; e
colegas de trabalho do próprio plano piloto. Aí destacam-se Auxiliadora Targino e
Amantino Teixeira; Alexandre Cavalcante e Dulcinéia; e Vanilza e Edinho.

Brasília era tudo isso e muito mais para nós. Uma vida de encontro no Venâncio 2000
ou no Conjunto Nacional; alguma noite no Centro Gilberto Salomão; o pastel com caldo
de cana da Rodoviária; a varanda do aeroporto para assistir a partida dos
conterrâneos que despachávamos. Do restaurante Roma e da Escola da 302 onde faziam
saraus os jovens poetas; conhecemos e almoçamos com Sílvio Caldas, que amava Natal;
e onde ouvíamos um poeta dizer: “Minha namorada / viajou para Porto Alegre / 
fiquei aqui a ver Ministérios. 

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