terça-feira, 17 de abril de 2012

Prever para prevaricar

A cachaça, o termo cachaça passou a ser respeitado no mercado norte-americano, depois de muita luta, como designação de produto tipicamente brasileiro. Quer dizer, respeita-se um bem imaterial, seu preparo, a cultura, o debruçar espiritual do artífice sobre a sua obra, a arte enfim. Do mesmo modo que o francês defende seu champanha.
Guto Cassiano


Temos porém, além da cachaça, outro produto bem brasileiro, possivelmente jamais igualado por qualquer outro país: a corrupção. Chegamos, pelo menos quase, à perfeição: trata-se de elaborado processo. Que vai do planejamento, conhecimento jurídico-burocrático dos meandros e das leis a serem burladas e manipuladas a favor do corrupto e seus corrompidos, até a execução na certeza de, falhado o plano espetacular, nada acontecerá. A impunidade faz parte do processo. Não impede uma nova intentona, está no gen da cultura política - política aqui em sentido amplo, de pólis.

E ficam os partidos se acusando mutuamente, manchados e moralmente trôpegos, mas acusando-se sem parar, o que dá à vida pública da a sensação de que a finalidade da política, aqui política partidária, é unicamente troca de desaforos e blasfêmias contra o bem social.

Assim, urge que se tomem as providências para registrar a corrupção nacional, a fim de que lá fora não nos tentem tomar esse licor, patenteando-o. E o que é pior: que tenhamos de comprar no mercado internacional algum caderno de métodos e técnicas de corromper. Não tenho dúvida de que, ocorrendo isso, se formariam imediatamente grupos e lobbies. Todos cobrando seus vinte por cento de comissão, alegando que seria muito importante o país importar esse bem como commodity, sob o lema positivista: prever para prover. Ou melhor: prever para prevaricar.

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