sábado, 3 de março de 2012

A menina que virou a cabeça dos alunos e do professor

Por Leide Franco


Mais uma sexta-feira à noite. Enquanto uns lotam os bares e festejam as happy hours, estávamos contemplando a vida acadêmica, no cumprimento da semana, nas últimas quatro aulas consecutivas que marcam a proximidade do fim e as poucas horas que faltam para o dia acabar. UFRN, setor II, bloco B, sala 3, esse é o caminho percorrido para chegar até o que seria só mais um dia de aulas da disciplina Oficina de Texto III, ministrada pelo “Velho Barreto” (professor Emanoel Barreto) e sua camisa lilás clarinho, sua calça jeans presa na cintura por seu cinto de couro marrom; conjunto esse que vestia os seus mais de trinta anos de vivência direta com o jornalismo.

Nada fora do normal. Sala de aula grande com em média trinta alunos, aparelhos de ar condicionado congelando a pele, o ranger da porta em consequência do entra e sai dos alunos com seus celulares nas mãos que teimam e escolhem tocar sempre durante as aulas. Cada um em seu canto, cada um ocupando seu espaço. Uns atraídos pelas exposições explicativas do professor e outros em outro mundo: O virtual. É a prova da inclusão digital e a chegada da rede Wi-Fi que se instalou por quase toda universidade, conectando mundos.

Repetindo: Até então nada diferente do habitual, a não ser uma menina aparentando uns 8 anos de idade, de pele cor de cravo ou canela, cabelos curtos, olhos decididos. Vestia calça cor de rosa, sapatilhas também rosa quase bailarina e uma blusa branca florida. Ela abriu a mesma porta que rangia, entrou vagarosamente pela sala de aula, “desfilou” leve, quase na ponta dos pés, fazendo um caminho em forma de “U” quadrado, carregando um aparelho de celular com as duas mãos, pronta para deixar em um endereço certo. 

Qual?
Quem? 

Essas eram as perguntas que todos faziam silenciosamente enquanto acompanhávamos com o movimento da cabeça os seus passos firmes. Todos pararam e olharam ao mesmo tempo o seu percurso que parecia ensaiado. Afinal, quem seria aquela pequena grande notável em um habitat tão diferente do seu?

Foi questão de uns dez segundos essa viagem na qual todos nós embarcamos. Ela chegou determinada, estava resolvida, confiante de que estava no lugar certo e de encontro à pessoa certa: Seu pai que estava sentado na última fila e na última cadeira, onde findava o “U” quadrado. Mas seria mesmo o pai dela? Foi o que imaginamos sem nem nos preocupar em perguntar se era isso mesmo. Ficamos um tanto tocados por aquela cena distinta. Continuando a sua missão, ela entregou o celular a ele, sentou-se na cadeira ao lado como se ela fosse sempre sua, nos ignorou e nem se incomodou em corar as bochechas de vergonha por causa da atenção que despertou em todos e que fez o professor Barreto calar por aqueles segundos. 

Depois de acomodada, com suas pequenas pernas suspensas na cadeira, pegou o laptop do “pai”, conferiu com atenção alguma coisa que se apresentava na tela do computador. Fuçava e digitava daquele jeito como todos da sua geração, como todos os que não sabem o significado da era não-digital. O que ela via naquele laptop era algo do tipo que exercia sobre ela e sobre seus olhos donos de cílios “impiscáveis” grande poder. De repente cansou, guardou o computador na mochila do “pai”; saiu pelo mesmo caminho que chegou. Poucos minutos depois voltou com a mesma desenvoltura de antes, sentou-se na mesma cadeira, prestou atenção de um jeito como uns não estavam fazendo, ouvia atentamente o que professor dizia e fazia aquela cara de menina que de tudo já entendia.

Um comentário:

Myrianna Albuquerque disse...

Esse momento foi realmente espetacular, professor!