quinta-feira, 1 de março de 2012


"Estou doente, estou muito doente..."

No País havia um problema: uma grande epidemia de dengue destruía a saúde das pessoas, ocupava todas as manchetes e levava medo, democraticamente, a todos o pontos, mesmo os mais distantes. De repente, alguém se lembrou: "Vamos falar com a Autoridade. A Autoridade pode dar jeito nisso. Toda Autoridade dá jeito em tudo."

A repercussão foi a maior possível: todos os moradores do País se reuniram em praça pública e tomaram a decisão de procurar a Autoridade. Houve gritos de regozijo, palavras de apoio e alegria incontida: a Autoridade iria atender ao povo, mobilizar esforços, compor comissões de alto escalão e logo, logo, a dengue seria superada e expulsos por decreto todos os mosquitos.

De repente, porém, um do povo gritou: "Mas, onde encontraremos a Autoridade? Alguém viu a Autoridade por aí?" E a resposta unânime: "Não!"; ninguém tinha visto a Autoridade nos últimos vinte anos. Mistério. O que fazer? Rápido em sua ação, um homem sugeriu: "Vamos formar uma Comissão Popular de Insatisfação-CPI e assim, quem sabe, encontraremos a Autoridade." Outro completou: "Muito bem. Além do mais, será um trabalho de arqueologia, uma grande descoberta. Já pensou? Encontrar uma Autoridade? Ganharemos o Nobel da Ciência Arquelógica."

E a partir daí, toca a procurar. A CPI não media esforços e era acompanhada diariamente pela TV, rádios, jornais e internet. As manchetes diziam: "Autoridade foi vista viajando em jatinho particular"; "Autoridade desaparece em meio a uma nuvem de mosquitos da dengue"; "CPI invade favela procurando Autoridade, mas a recebida a bala por traficantes"; e afinal: "CPI descobre pista da Autoridade".

Quando essa última manchete saiu, causou grande comoção nacional. A dengue já havia matado milhares de pessoas e o possível sucesso da CPI era festejado nas ruas. A CPI empenhou-se ainda mais, até que enfim um grande jornal deu com exclusividade: "CPI descobriu casa da Autoridade e marca audiência para amanhã".

O País inteiro parou: amanhã, finalmente, a Autoridade iria ser acionada e iria tomar as providências cabíveis à gravidade do caso. No dia da reunião, a CPI chegou pontualmente e foi recebida por um mordono que, pondo o indicador sobre os lábios disse: "Psiu... Silêncio, a Autoridade está doente..." A CPI controlou seu pânico: "Será que a dengue pegou a Autoridade?"
Passou-se um tempinho, até que, afinal, a Comissão foi recebida pela Autoridade.

Pé ante pé, seus integrantes da CPI se aproximaram e seu Presidente disse: "Excelentíssima Autoridade: estais doente?"

"Siiim", respondeu a Autoridade com um fio de voz.

"E o que tendes?", foi a angustiosa pergunta do presidente da CPI.

"Ó, não queirais saber, meu justo cidadão", disse a Autoridade. E completou: "Estou gravemente doente. Gravamente doente de... caspa." Disse isso virou-se para o outro lado e declarou que tinha acabado de morrer.


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