quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Grito de gol, grito de greve

O Diário de Natal informa que os operários que trabalham na construção da Arena das Dunas podem entrar em greve,que seria também deflagrada em  Salvador, Recife, Brasília e Rio de Janeiro, cidades onde também haverá jogos da Copa do Mundo. 
http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/6403-greve-da-pm-em-salvador#foto-123343
Foto:  Moacyr Lopes Junior - 9.fev.12/Folhapress

Diz o jornal:  A ideia é que os aproximadamente 25 mil operários espalhados pelas cidades-sede (Rio de Janeiro, São Paulo , Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Cuiabá, Brasília, Natal, Fortaleza, Manaus, Recife e Salvador) cruzem os braços, caso não seja aprovada uma proposta única de piso salarial e benefícios para todos os trabalhadores. A decisão quanto à paralisação ou não deve sair até o dia 15 deste mês, quando as forças sindicais pretendem ir a Brasília para se reunir com o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI).

Afirma também o DN que entre as principais reivindicações das forças sindicais estão o piso nacional unificado de R$ 1,1 mil para ajudantes de obras e de R$ 1,580 para pedreiros e carpinteiros, hora extra com percentual de 100% durante os dias de semana, cesta básica no valor de R$ 35 e planos de saúde extensível a familiares. A paralisação, caso realmente aconteça, ainda não tem data confirmada. O certo é que poderá coincidir com a vista do presidente da Fifa, Joseph Blatter, e do secretário-geral da entidade, Jérôme Valckle, ao Brasil em março. As forças sindicais, no entanto, garantem que a data nada tem a ver com a presença dos dirigentes. 

Muito bem, agora vejamos: essa admissível paralisação viria, não há como negar, no vácuo do que ocorre na Bahia, onde a Polícia Militar está em greve. A saliência e a ênfase do noticiário dão o alarma para a categoria dos pedreiros: a hora de reivindicar se aproxima, quando o grandão da Fifa vem ver se o país está cumprindo direitinho o que determinou a entidade mundial do futebol: gastando dinheiro público para manter as obras em dia. 

Por sua vez, a leitura do acontecimento na Bahia sugere uma espécie de choque de realidade aos governantes: o que se paga aos trabalhadores não dá para viver com dignidade, seja o militar, seja o civil. 

Claro, não dá para admitir os rumos que o movimento tomou na Bahia, quando se percebe o intento de implantar o caos, o terror, a insegurança. Isso, todavia, que em essência é algo perverso, tem também em sua origem outra perversidade histórica: o péssimo salário que se ganha neste país. E quando alguém começa a acreditar que "não tem mais nada a perder" têm início atos como os perpetrados em Salvador: a tropa quase em sublevação, programando instalar o descalabro.

Para se chegar ao fim do problema exige-se bom senso de lado a lado em Salvador e ação urgente junto aos trabalhadores que constroem os estádios para essa desastrosa Copa do Mundo são essenciais para que a normalidade seja mantida: nas ruas com a polícia trabalhando, nas obras com a preparação das arenas onde o país vai gastar milhões e milhões para entupir o povo de gol. Mas, atentai bem, nem só de gol vive o brasileiro. 

A ilusão de um povo feliz, só porque está assistindo jogos de futebol só engana os governantes. Quando a realidade aperta - e sempre aperta o povo - não se ouve grito de gol, mas grito de greve.

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