terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Um dia de ira

Michel Goldfarb Costa, de 33 anos, empresário, é o homem que em dia de ira saiu louco pelas ruas de S. Paulo disparando uma pistola que manejava com habilidade, segundo leio na net. A matéria é da Folha e segue após este texto. A narrativa do jornal paulista não é das melhores: é um texto tipo telegrama, que não dá ao leitor a sensação humana, o drama pungente que se passou. Coisas da Folha e seu Manual de Redação, que permitiu, por exemplo, a ocultação do nome do acusado, que somente identifiquei no Estadão. 

O jornal dos Frias desenvolveu ao longo do tempo esse tipo de texto: malfeito, chocho, uma espécie de bricolagem onde você vai juntando pedaços de um mesmo fato e suas conexões. É como se o redator ficasse saltando de uma frase a outra, fazendo uma montagem, tudo em nome da "objetividade", esse pretenso distanciamento do repórter perante aquilo que narra ou descreve. Ao fim da leitura fica a sensação de que houve na verdade foi incapacidade de contar a história, dadas as idas e vindas do texto. Uma lástima.Veja e confirme o que digo.

Polícia identifica suspeito de fuga alucinada em São Paulo

GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO


Ele saiu de casa com um pistola automática e munições nas mãos. Deixou a namorada dormindo e foi embora. Roubou carros e bateu mais de uma vez, atirou aleatoriamente nas pessoas e nos veículos que trafegavam pela zona sul de São Paulo e sumiu, deixando para trás dois baleados, automóveis destruídos e paulistanos em pânico.

Começa assim o roteiro da investigação da polícia sobre o suspeito de protagonizar a fuga alucinada num percurso de 40 quilômetros entremeada por tentativas de assassinato, na madrugada desta segunda-feira. Ele é um administrador de empresas.A família do suspeito pediu para que ele não fosse identificado. Diz ter certeza de que foi sequestrado e que se seu nome for revelado ele pode correr risco de morte.
Transtornado e aos gritos, segundo as vítimas, ele atirou a esmo em plena avenida Tancredo Neves, no Sacomã, após bater um táxi roubado contra outro automóvel.

A saga começou às 5h20, na avenida dos Bandeirantes, no sentido da rodovia Anchieta. Ali, quase em frente à pista do aeroporto de Congonhas, o administrador abandonou seu Corolla blindado, segundo a versão da polícia.
Com a arma em punho, foi até o semáforo fechado e mandou o taxista Elias da Silva, 37, e uma passageira descerem do carro, um Meriva. 

Antes de qualquer reação, ele atirou várias vezes no lado da passageira. "Ele estava alucinado e queria fugir dali", disse Elias, que saiu do carro, ajudou a passageira a sair e viu o atirador partir.
Em alta velocidade, o atirador chegou com o Meriva na avenida Tancredo Neves. 

No cruzamento com a avenida Nossa Senhora das Mercês, ele bateu o táxi em um Fiat Brava, dirigido pelo instalador de TV a cabo David Neves, 29, que estava com a mulher, Hérika, e o filho Thalles, de dois meses. O carro foi lançado 50 metros adiante. 

"Meu filho ficou prensado contra o banco do motorista. A cadeirinha o salvou. Foi um horror", desabafou Neves.
Testemunhas dizem que o atirador desceu do carro e voltou a disparar. Manuseava a pistola com técnica, afirmam as pessoas ouvidas pela polícia.
A vítima seguinte foi o eletricista Emiliano Borges, 50, que estava dentro de sua Ecosport, acompanhado de sua mãe. Ele foi atingido na barriga. "Ele gritou 'sai que eu tô em fuga, filho da puta', e atirou contra a porta várias vezes", contou Borges a familiares no hospital, ontem. 

Mas o atirador não conseguiu ligar a Ecosport e partiu em direção a outras vítimas. No meio da Tancredo Neves, atirava contra tudo e todos. Atravessou a via e correu em direção ao Logan do engenheiro Ademir Guerreta, 61, que seguia no sentido marginal. "Ele chegou e atirou. Tive tempo de desviar a cabeça e pôr a mão. O tiro pegou de raspão", contou ele, mostrando o ferimento. 

Depois de abordar o Logan, o atirador prosseguiu. Foi até o Polo da professora Ivete Cruz e atirou várias vezes, atingindo a coluna lateral do carro. "Eu pedi calma e ele foi me arrancando de dentro do carro", lembra a professora. 

O atirador assumiu o controle do Polo e saiu em alta velocidade. Andou 600 metros e bateu contra um ônibus sem passageiros e descarregou a arma.
Mas a saga não terminou aí. Após a batida, o atirador então abordou o motorista de um Ford Ka e fugiu.
A série de colisões continuou. Na avenida do Estado, região central da cidade, o atirador bateu o Ford Ka, tomou um Celta de outro motorista e bateu novamente, agora na marginal Tietê, na altura na ponte da Casa Verde (zona norte). 

Depois disso, o atirador sumiu. Não foi visto por mais ninguém.
Segundo policiais, ainda pela manhã, uma pessoa que se identificou como namorada do atirador foi à delegacia e disse que ele saiu de casa, em Cotia (Grande SP), quando ela estava dormindo. 

Duas vítimas reconheceram o suspeito por foto no 26º DP, no Sacomã. O delegado Marcos Manfrim recebeu a informação de que o atirador teve um surto psicótico.
"Nasci de novo", foi a frase mais vezes repetida por vítimas hoje na delegacia.
Colaborou LAURA CAPRIGLIONE

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