segunda-feira, 16 de janeiro de 2012


Historinha brasileira: a sofrida vida de um corrupto


Aproniano trabalhava de pedreiro. Paulo trabalhava de médico. Josepha Crescência trabalhava de advogada. Asclepíades trabalhava de corrupto. Pobre-diabo. Dava um duro danado para sustentar a família e até mesmo aquela sogra rabugenta. Começou trabalhado na Câmara Municipal, onde teve excelente desempenho intermediando verbas. 

Insatisfeito, o povo exigiu mais dele e tornou-o deputado estadual. Coitado. Como sofreu, avançado horas e horas noite adentro, executando grandes planos. Resultado: o povo cobrou mais do pobre-diabo, que tornou-se deputado federal. Aí sim, foi sofrimento grande.
http://www.google.com.br/imgres?q=corrup%C3%A7%C3%A3o&hl=pt-

Mais e mais lhe foi cobrado. Cansadíssimo, foi com notável esforço que o convenceram, ou melhor, intimaram a novo e terrível tormento: chegar ao Senado. Desesperado, sem saber mais o que fazer para atender ao povo ("Acho que esse povo quer que eu morra..."), continuou a trabalhar de corrupto, com inomináveis suplícios. 

O povo queria mais - veja como o povo é cruel - agora vinha a forçá-lo a ser governador. "Ó, Senhor, que atroz destino, fado e sina", lementava-se na solidão, ajoelhado ante um oratório, e se perguntava: "Por quê? Por quê? Por quê?". Entregou-se ao martírio de trabalhar duplamente, como governador e como corrupto. 

Afinal, cansado, melhor dizendo, exausto, decidiu-se. Reuniu toda a família e anunciou sua retirada da vida pública. "Após anos e anos trabalhando em favor do povo e da corrupção, injustiçado pela imprensa, injuriado pelos advrsários, quero comunicar que, ao contrário de Dom Pedro, não fico."

"Por que, papai?", quis saber o filho mais velho. 

Ele respondeu: "Não trabalhe tanto como o seu velho pai. Corrupção é coisa de muita responsabilidade. Cansa muito. Não insistam, que não mais trabalharei de corrupto. Não peçam mais de mim tal sacrifício."

"E o senhor vai trabalhar de que, se somente sabe trabalhar de corrupto e corruptor?", rebateu uma filha.

"Meus filhinhos", disse, com os olhos em lágrimas, "agora papai vai estar mais em casa. Agora papai não precisa mais trabalhar de corrupto. Acabaram-se meus dias de sofrimento. "Agora", disse com um sorriso no olhar, "papai vai trabalhar de empreiteiro." 

E assim foi feliz para sempre ao lado dos seus entes queridos.

Nenhum comentário: