sábado, 29 de outubro de 2011

Ocupação na USP pede saída da PM e intensifica polêmica

Alckmin critica estudantes rebelados e afirma que "ninguém está acima da lei"

Confronto na Cidade Universitária ocorreu na quinta-feira, após a polícia flagrar alunos portando maconha

DE SÃO PAULO

A ocupação do prédio da administração da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), na Cidade Universitária, zona oeste de São Paulo, causa polêmica entre os alunos da USP.
Depois do confronto com a PM na noite de anteontem, cem estudantes invadiram o prédio. Dizem que só saem de lá quando a PM for proibida de entrar no campus "em qualquer circunstância".
O tumulto de anteontem ocorreu após três estudantes de geografia serem flagrados com maconha no campus.
Houve reação de outros alunos, que tentaram impedir que o trio fosse detido.
Os manifestantes jogaram pedras nos PMs, que usaram bombas de efeito moral e cassetetes. No fim, eles acabaram levados à delegacia.
A ocupação do prédio ocorreu ainda naquela noite. Ontem, opiniões de quem passava por ali eram divergentes.
"Prefiro ser revistado pela polícia a ser abordado pelo ladrão", disse Augusto de Oliveira, 19, aluno de turismo.
"Eles estão fazendo exatamente o que a gente achou que iam fazer: ir atrás de quem não devia", disse Isabela Serapião, 24, de letras.
Ao menos três alunos relataram que, na quinta, PMs abordaram estudantes de forma truculenta no entorno da FFLCH. Outros disseram que alunos já foram abordados dentro da moradia estudantil e de centros acadêmicos.
Questionada, a PM não se manifestou sobre o assunto.
O grupo da ocupação não permitiu a entrada da Folha no prédio. Muitos mantêm os rostos cobertos. Da janela não se via sinais de depredação.

LEI PARA TODOS
Ontem ,o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que vai apurar se houve excessos. "A lei é para todos. Ninguém está acima da lei, A PM está há mais de 50 dias fazendo policiamento para proteger todos na USP", disse.
"Não tem estudante ferido, nós tivemos policial ferido e viaturas danificadas."
A Folha, no entanto, ouviu relatos de alunos feridos.
A PM disse que dois policiais e dois jornalistas se machucaram e seis carros da polícia foram depredados.
O reitor da USP, João Grandino Rodas, afirmou em entrevista à rádio CBN que levará os fatos para análise do Conselho Gestor do campus.
"Se perceber abuso, a universidade tomará as cautelas necessárias e fará as ações para que coisas desse tipo não voltem a acontecer."

AÇÕES SÓ NO PAPEL
A presença da PM no campus foi decisão quase unânime do Conselho Gestor após o assassinato do aluno Felipe Ramos de Paiva, em maio.
Há 50 dias, a universidade assinou um convênio com a Secretaria de Segurança Pública para colocar o plano aprovado em prática, com instalação de duas bases e treinamento dos policiais militares para atuar especificamente no campus -mas essa parte do convênio ainda não saiu do papel.
(RAPHAEL SASSAKI, CRISTINA MORENO DE CASTRO, TALITA BEDINELLI E MARIANA DESIDÉRIO) (Folha de S. Paulo)

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