quinta-feira, 20 de maio de 2010

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A Folha e a perversa política editorial do amor/odio
Emanoel Barreto

Transcrevo e abaixo comento parte de notícia da Folha, em que anuncia reforma gráfico-editorial para este fim de semana.

A partir de domingo, quando estreia o novo projeto gráfico e editorial da Folha, o jornal passa a contar com um grande elenco de novos colunistas. Cadernos estão sendo reformulados e alguns deles também terão novos nomes.


O atual caderno Brasil passa a se chamar Poder. Dedicado aos interesses do cidadão e à esfera pública, o caderno faz a cobertura dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de tratar de assuntos relacionados à religião, ao meio ambiente, aos movimentos sociais e às diversas organizações da sociedade civil.


Este ano, Poder, editado pela jornalista Vera Magalhães, tem na cobertura das eleições gerais (para presidente, governador, dois senadores, deputado federal e deputado estadual) o seu principal foco de atenção.


A atriz Fernanda Torres, que estreou como dramaturga em 2009 com a peça "Deus É Química", passa a escrever em Poder quinzenalmente, aos sábados, sobre as eleições. Dividirá o espaço com o diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo.


O caderno Dinheiro, editado pelo jornalista Raul Juste Lores, passa a se chamar Mercado. E vai receber 15 novos colunistas em suas páginas.


Entre eles, o empresário Eike Batista, empreendedor das áreas de mineração e siderurgia, hoje o brasileiro mais rico segundo a revista "Forbes", que escreverá mensalmente.


Como ele, também escreverão todo mês Fábio Barbosa, presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e do Banco Santander no Brasil, e o deputado Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva e coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência.[...]




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A Folha é jornal nacional de referência que mais tem procupação em crescer e afirmar-se como hegemônico em seu campo. O Projeto Folha é bem sucedido em termos de marketing e sob o aspecto político. É o jornal mais influente do país. Seleciona cuidadosamente articulistas de renome e, frente a um mercado que se torna dia a dia mais difícil para o jornalismo impresso, começa a dar destaque mitigado ao noticiário policial. Claro, para abarcar o leque de leitorado que se interessa por esse tipo de informação.


O jornal vive, entretanto, um paradoxismo: é o mais lido e o mais odiado do país. Como? Simples: faz parte da política editorial a manutenção desse vínculo esquizofrênico com o leitorado. O professor Carlos Eduardo Lins da Silva, um dos epígonos do Projeto Folha, detalha como isso se dá no livro "Mil dias, seis mil dias depois".


A política do amor/ódio funciona assim: o jornal publica notícias que "ofendam" determinados segmentos do seu público de forma deliberada - está no livro. Exemplo: quando foi exibido no Brasil o filme "Je vous salue, Marie", de Jean-Luc Godard, abriu espaços para não só noticiar como expor textos de crítica favorável à fita, com o objetivo programado de susitar sentimentos de insatisfação junto a leitores católicos conservadores. Na mosca! Houve uma enxurrada de protestos.

Era isso mesmo o pretendido - também está no livro de Silva. O leitor, revoltado, repudia o jornal mas não deixa de continuar lendo suas edições, numa espécie de efeito reverso. Isso a fim de manter-se informado a respeito de como o impresso contesta seus valores. Idem, no livro. Mas, diz Silva, tal é cumprido de forma cautelosa, a fim de não afrontar em demasia o leitor perdendo-se mercado.

E, como uma fênix, a Folha se renova a cada seis anos mais ou menos. Com isso passa a ideia de entidade que não se ossifica, escapa aos rigores do envelhecimento editorial, é arrojada e deve ser assim acompanhada em suas mutações.

O projeto é tático enquanto proposta editorial e mercadológica, e estratégico em termos de grande política, já que seus controladores buscam influir historicamente no processo comunicacional e ideológico vivivo por esta pátria amada, salve, salve.

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