sábado, 29 de maio de 2010

Hopper, à esquerda da foto, Fonda e, quase oculto, Nicholson. (Divulgação)

Good Bye, Dennis Hopper
Emanoel Barreto

Morreu hoje o ator Dennis Hopper, que os da minha geração lembram como o motorider que corria as estradas dos Estados Unidos ao lado de Peter Fonda e Jack Nicholson no clássico Easy Rider, 1969. Então, o sonho estava acabando e nós não percebíamos. A onda de protestos que varria o mundo dava a todos os jovens a ideia de que havia algo de internacional, melhor dizendo universal, à condição de jovem. Ou seja: havia o ingênuo consenso de que todos nós éramos jovens, ao invés de estarmos passageiramente jovens.

A ilusão do ser jovem, aliada à também fantasiosa circunstância de que o mundo juvenil era o mundo mesmo, uma espécie de mundo à parte daquele outro mundo, o mundo dos velhos, se completava e nos unia a partir dos Estados Unidos, de onde o vagalhão de protestos contra o status quo irmanava a polifonia de rebeldia na verdade infante.

E a juventude se transformava em causa, e aqui havia mesmo uma canção de Marcos e Paulo César Valle que dizia "Não confie em ninguém com mais de 30 anos". Em Paris, Daniel Cohn-Bendit proclamava, em 1968, no grande motim de maio: "Seja realista: peça o impossível". E todos queríamos esse maravilhoso impossível, esse não-sei-quê que, mesmo antes de nós, havia iluminado, por exemplo, Proust em sua busca pelo tempo perdido.

Mas, era de Hopper que falava. Trabalhou em mais de 200 produções em TV e cinema. Agora, um velhinho, ele se foi, partiu. E  nós, os que ocasionalmente ficamos, estamos, proustianamente, em busca do tempo perdido. Good Bye, Dennis Hopper, os que ainda estão e ainda vão morrer te saúdam.


Um comentário:

Luara Schamó disse...

Quem diria que você foi inspirado e tocado por figuras como essas! Mas eu fico pensando o que foi que deu errado com os sonhos daquela geração de 60 e 70? E por que nós, filhos ou netos dela, somos o avesso daqueles sonhos? Ainda não consigo entender esse elo torto... Abraço!