Os terrores noturnos e a flecha que voa de dia
Emanoel Barreto
A morte do jornalista e ex-deputado federal Márcio Moreira Alves, uma das figuras icônicas da minha geração, a geração de 1968, transforma aos poucos a história ainda viva em seus personagens em lembrança. Quer dizer: história será sempre história; para mim é que é lembrança, vira saudade.
Pessoas e seus gestos largos de coragem começam a desaparecer. Logo para nós, uma geração que não acreditava em ninguém que tivesse mais de trinta anos. Estávamos todos liberados para viver a eterna juventude. Tolos e sublimes, como éramos.
Ainda me lembro das passeatas de 68, maio de 68. Um movimento que começou em Paris sob a liderança de um jovem, Daniel Cohen Bendit, Danny o Vermelho, espalhou-se pela Europa, ganhou os campi norte-americanos e explodiu como uma bomba de girassóis insurretos na América do Sul, Brasil. Natal, por consequência.
O lema: "Seja realista; peça o impossível." De alguma forma continuo pensando assim. O impossível será sempre a minha meta. Mesmo caminhando entre os terrores noturnos e sob as flechas que voam de dia.
(Na foto, Márcio faz seu tremendo discurso, em que conclama as mães a não deixar que seus filhos fossem assistir ao desfile de 7 de Setembro, lembrando que os militares que então desfilariam eram os mesmos que prendiam aqueles meninos e meninas e davam sustentação à ditadura).
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