sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A política e as trinta moedas
Emanoel Barreto

Está na Folha online: O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini (SP), saiu em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A oposição e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) criticaram a declaração de Lula sobre uma coalizão política entre Jesus e Judas nos dias atuais.
Para Berzoini, as críticas revelam "superficialismo político do momento". "A frase de Lula sobre Jesus provocou uma onda de farisaísmo, reveladora do superficialismo político do momento", escreveu ele no Twitter (microblog). "Afinal, o moralismo seletivo é uma das piores formas de farisaísmo. E a demagogia dos fariseus no tempo de Jesus repete-se nos atuais."
Lula disse que era preciso fazer alianças para ter apoio no Congresso. "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão", disse Lula em entrevista à Folha.
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Em verdade, em verdade vos digo: a incontinência verbal de Lula é bastante representativa do tipo de política que vivemos. A metáfora presidencial refere o seguinte, creio: a "pragmática" do Planalto admite como situação peremptória a troca de "entendimentos" entre Lula e a base aliada. Ou seja: o PMDB, principal partido da coalizão entre PT e essa base aliada, é o Judas com quem se precisa conviver, mesmo que a troco das trinta moedas.

O caldo de cultura política que se vive aqui, historicamente permite esse tipo de situação, acordos e conchavos. É sabido que o PT afastou-se muito de suas bandeiras históricas e trabalha com quaisquer judas. Como também é sabido que o velho PMDB do Doutor Ulysses tornou-se uma teia de interesses e apetites politicamente obesos.

É o que o professor Werneck Vianna chama de Estado de compromisso, quando forças as mais díspares encontram-se sob o guarda-chuva do governo e ali perpetram seu tênue e frágil equilíbrio. É a democracia brasileira, que assim se tece no longo e tortuoso caminho da história.

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