terça-feira, 20 de outubro de 2009

Os mortos são inimputáveis
Emanoel Barreto

Ora, naquele tempo havia um homem que muito se comprazia com os prazeres da carne e da bebida. Eis que um dia, em plena esbórnia, entregou a alma ao Criador, gerando grande alarde nos meios pândegos. Os amigos, acostumados com suas irreverências, manhas e atitudes, ficaram crentes que ele brincava a bom brincar.

Nisso, ele levantou-se e disse "não acreditam, estou morto?". Veio um físico e constatou que ele realmente não respirava, não tinha pulso e estava estranhamente frio. Mas, sábio, concluiu, "se fala e se se move, vivo está. Deixam-no. Por outro, lado, se não respira nem o sangue se lhe corre nas veias, morto está. Deixem-no também. Deixem-no viver e morrer ao mesmo tempo."

O homem, que nada tinha de tolo, logo aproveitou-se da situação. Entrou para um grupo de notáveis finórios e pôs-se a praticar, a favor de si e da sua grei, todo tipo de ato inescrupuloso e lucrativo. Mas, somente ele aparecia. Pois, dizia antigo princípio legal que "todo morto é inimputável. A rigor - aduz a sábia ciência jurídica, "apenas a putas são imputáveis." Mais claramente, se está morto não pode ser punido e somente as putas podem ser legalmente molestadas. Pronto.

Resumo da história: analistas e cronistas velhos e sábios indicam que o homem hoje ocupa a presidência do Senado. E, como é velha e esperta múmia, morto estando não pode ser punido.





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