sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A mulher-objeto
Emanoel Barreto

O recente episódio de uma jovem estudante de turismo da Uniban, uma universidade de São Paulo, que causou literalmente furor entre colegas que a agrediram por usar um microvestido, representa à exaustão a figura da mulher-objeto, papel que ela assumiu, creio, após sentir-se com o direito de viver de pleno suas fantasias. Esqueceu, porém, que vive no mundo social e foi brutalmente punida com vaias e agressões físicas.

Não há na minha visão qualquer laivo de moralismo. Não. Entendo que o que a jovem fez foi cumprir exatamente com os parâmetros da indústria da moda, que encaminha corações e mentes juvenis ao uso de determinado tipo de roupa como imperativo de beleza e elegância, um estilo de vida.

Deu no que deu. Mas, observemos: a multidão de rapazes e moças que a apedrejava socialmente era composta, certamente, pelos mesmos jovens que se curvam aos modismos, gostos e ademanes do que seja a moda atual.

A indústria da moda convenceu a uma certa parcela da população que ser jovem é comprar determinado tipo de vestimenta que, por sua vez, corresponde a um certo tipo de comportamento - arrojado, não reverencial a padrões tidos como "ultrapassados".

Todavia, quando a coisa se desloca das revistas de moda e das passarelas para cair no mundo do cotidiano, o olhar muda. As pessoas, as mesmas pessoas que aplaudem a mundanidade do vestir, desde que esse vestir esteja apenas nas revistas ou passarelas, armam-se de seus conceitos "arcaicos" e agridem aquela que performatizou à plenitude o suposto arrojo e autoridade sobre como vestir - ou desvestir - o próprio corpo.

A frivolidade da moda, capitaneada por todo um sistema de manipulação mental, resulta assim em situações como as vividas pela jovem, criando-se a seguinte situação paradoxal: a ela faltou bom senso; aos agressores, respeito.


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