quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ouça, mas, depois, lave as mãos
Emanoel Barreto

O magnífico texto de Mauro Santayana, no Jornal do Brasil, ensina: "Há uma frase de Disraeli, o poderoso e controvertido primeiro-ministro britânico, que deveria servir para a nossa meditação. O filho de judeus convertidos ao cristianismo atribuiu a grandeza da Inglaterra ao fato de que, naquele país, os homens de bem têm (ou tinham naquele tempo) tanta ousadia quanto os canalhas. Falta essa ousadia à maioria dos homens de bem no Brasil, além de informação mais honesta. Muitos dos que, hipocritamente, berram, no Senado e pela imprensa, suas virtudes, não podem ser considerados homens honrados: basta examinar a sua vida conhecida."
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É verdade. A indiferença das mulheres e homens honrados evolui malignamente para silêncio militante a favor dos canalhas. A indiferença da nossa sociedade civil para com os movimentos felínicos de políticos, empresários e quejandos, quando em sua manifestação corrupta, permite que todos eles, em movimento sistemático, e até diria orquestral, se apoderem da coisa pública e dela façam uso.

Parece que a formação bacante de nossa sociedade migrou para a política, encontrando ali campo vasto, faustoso e debochado, que sacia fome e sede dos que tiram da boca dos desvalidos. Nada contra a adoração de Baco, a sensualidade liberta e refletida - não. Somos um povo tropical a dionisíaco.

Mas, a transformação do que é público em orgia, a transfiguração do que é sério em devassidão argentária, revela o lado inaceitável e perverso de um sistema político que se transformou em lodo.

E, nesse mundo viscoso, o Estadão online traz hoje novas gravações sobre os negócios da família Sarney. Se não ouviu, ouça. Não é gripe suína, mas, depois de ouvir, lave as mãos como recomendam os médicos.

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