sábado, 2 de maio de 2009

O silêncio que se forma
Emanoel Barreto

Uma das formas de uma sociedade se reconhecer e se refletir é no seu jornalismo. Um jornal, uma emissora de TV, uma rádio, de alguma forma refletem essa sociedade, seja complexa ou mais simples. O que vem ocorrendo no jornalismo de Natal é algo assombroso, preocupante: uma espécie de desmanche em veículos tradicionais, em suas marcas e equipes, distanciando-os de sua verdadeira razão de ser: seus vínculos com a cidade, com o Estado, enfim, com a energia sócio-cultural pulsante.

Recentemente, o Diário de Natal promoveu demissões em massa, retirou de cena profissionais experientes e grandes promessas do jornalismo. Como o Diário agora é impresso em Pernambuco, foi demitido todo o pessoal gráfico. Comenta-se até que O Poti, tradicional título que publica aos domingos, será extinto para atender a questões mercadológicas.

O Poti faz parte dos afetos sociais de Natal e do Estado. É uma marca querida, é a cara dos domingos. A Rádio Poti, a primeira de Natal, dissolveu-se silenciosamente e agora tem outro nome - nem sei qual é, nem quero saber - advindo do grupo Associados, que detém controle sobre os veículos.

A TV Cabugi agora é InterTV, marca distante e fria, adstrita a grupo empresarial de fora. A Rádio Cabugi, vibrante rádio popular, inserida histórica e cotidianamente na vida do povo, cedeu lugar à Rádio Globo Natal e perdeu todos os liames com a cidade.

Um jornalismo ou uma programação que não refletem o dia a dia de sociedade sobre a qual se remete tornam-se, por isso mesmo, portadores de mensagens vazias. Que até podem atender aos interesses empresariais, mas que, inelutavelmente, são vazios de sentido social imediato, que só o telúrico e o emocional, providos e provedores de afeto com o seu público, podem garantir.

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