sábado, 7 de março de 2009

O crime do arcebispo
Emanoel Barreto

A Igreja revelou sua face mais reacionária e trevosa no caso da menina de nove anos estuprada pelo padastro. Grávida, a criança precisou passar pelo abortamento. O arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho, como nos tempos da Santa Inquisição excomungou a mãe da menina que autorizou e os médicos que fizeram o aborto. Naqueles tempos, ele os teria condenado à fogueira.

Tacanho, mesquinho, moralmente velhado, o minúsculo cérebro do sacerdote não se comoveu com o drama da criança: uma menina que deveria estar brincando de boneca, pela visão demencial do arcebispo, deveria ser obrigada a cumprir com todo o trajeto da gravidez, para a qual seu corpo infantil não estava preparado.

Alegou que o abortamento é pecado pior que o do estupramento.

Nada entendo da graduação dos pecados. Qual a lógica que determina que a brutalização do corpo de uma criança menina seja pecado menor que a salvação desse mesmo corpo, por atitude piedosa, condoída e protetora.

Pobre, miserável arcebispo. Em nome de Deus faz o elogio do estupro; em nome da Vida, quer que uma vida seja mais violada do que já o fora. Lato sensu, sou contra o aborto. Mas, cada caso é um caso. E, com relação à criança menina de Recife, gostaria que a Igreja fosse mais piedosa. Cristo perdoava. E muito. Mas, tenho para mim, não perdoaria o crime do arcebispo.

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