domingo, 15 de junho de 2008

Se lembra de Pobre, o zumbi? Hoje, é funcionário-fantasma...

Caras Amigas,
Caros amigos,
Há uns dias publiquei a história de Pobre, que morreu, e sem atestado de óbito não foi aceito Do Outro Lado. Assim, voltou, e na qualidade de zumbi, foi preso. Segundo acordo internacional de que o Brasil é signatário, zumbis somente são aceitos no Haiti, que detém a propriedade intelectual no assunto.

Preso, Pobre ficou sozinho na cela. Os companheiros tinham medo dele e preferiram ficar amontoados em outro cubículo. Da cela onde estava, Pobre podia acompahar o som dos noticiários de TV e em poucos meses formulou uma espécie de vocabulário de crimes como: corrupção ativa e passiva, peculato, concussão, prevaricação, suborno e outros típicos dos chamados crimes de colarinho-branco.

Prestando muita atenção, percebeu que as penas anunciadas para tais criminosos eram altas, fora devolução de dinheiro, multa... Conversou com um advogado de porta de cadeia, que atendia a um preso que ficava na cela ao lado, e soube: esse negócio de ser zumbi era apenas um acordo entre Brasil e Haiti. Não havia penalidade específica. Unicamente, o Brasil se comprometia a não produzir zumbis, do mesmo modo que os haitianos não fabricariam bebida alcoólica com o nome de cachaça. Só isso.

Então, quando foi um dia, Pobre aproveitou-se da manifestação de uma dessas ONGs de direitos humanos e falou a um dos seus integrantes a respeito do seu problema. Ele era um sem-vida, o único no Brasil e estava preso por isso. Enquanto isso, os peculatários e quejandos estava aí, soltos e zombando de todos. Pronto: foi o suficiente para que os ongueiros se mobilizassem. Partiram para a passeata: um sem-vida era um achado. Valia uma passeata.

Outros grupos juntaram-se a eles e logo Pobre estava solto. Houve um gigantesco comício em comemoração. E foi lançada uma campanha: a promoção de suicídio coletivo entre os pobres dos mais pobres; nenhum teria atestado de óbito, todos voltariam à Terra e formariam o grande movimento dos sem-vida.

O Governo enlouqueceu: não ia dar para dar um Bolsa Vida aos mortos, já que os vivos iriam reclamar. Iriam dizer que o dinheiro do Bolsa Vida bem poderia ser usado com os... vivos, é claro. Bolsa Vida é para os vivos, não para os mortos, diziam os vivos.

Estabelecido o contencioso jurídico, reuniram-se os luminares do Direito e formou-se uma comissão de alto nível, cujo resultado foi o seguinte: convidar Pobre para uma reunião sigilosa. Ele foi; chegando lá, foi-lhe proposto um alto cargo, o cargo de Funcionário-Fantasma. Ele esquecia esse negócio de Bolsa Vida e viveria, ou melhor, morreria eternamente, ganhando um bom dinheiro.

Pobre aceitou na hora e até hoje seus descendentes - ele casou-se com uma múmia elegantíssima da Terceira Dinastia - estão aí, infestando as repartições desta patria amada, salve salve; brasileira, brasileira; do Brasil nacional.
Emanoel Barreto

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