quinta-feira, 19 de junho de 2008

A máquina de surras

Caras Amigas,
Caros amigos,
O período pré-eleitoral lembrou-me viagem que fiz há anos a um país onde a corrupção foi banida, literalmente, do seu mapa. Lá se fala um idioma absolutamente incompreensível à maioria dos mortais, mas que eu, não me perguntem como, aprendi a falar. Assim, convidado por um amigo desse país, passei lá uns quinze dias.

Logo que cheguei li no jornal a seguinte manchete: "oo8989nfjuu2nn!".

A tradução é o seguinte: "Estamos há 50 anos, 32 dias, 7 minutos e 14 segundos sem corrupção!

Encantado e ao mesmo tempo perplexo, perguntei ao meu amigo: "kkmjinin.leirunim?"

Ele me respondeu: "njkçç51313,,mjuueu..aksoiuienonn[==9931zx....8585fhfhwt43==-,k88jmamsmkmemdjujmadikdkdmmmm."

E eu: .ç´ç.çlikmiuekmiu9aolemroelsmi,mlkoiomlia?"

Resposta: "utjm kkkk juuyqtbdnkdçdpdã[a.ça]]]açaa,l".".."

Tradução de tudo: o amigo explicou-me que, quando a corrupção chegou a níveis insuportáveis, um grupo de parlamentares honestos conseguiu aprovar uma lei instituindo a máquina de surras. Um complexo e ciclópico instrumento onde eram metidas as pessoas que votavam em corruptos - a foto vocês viram, na abertrura desta matéria. Incrível, não?

E isso, a partir de um raciocínio simples: os corruptos são eleitos pelo povo. Sempre os mesmos, sempre para os mesmos cargos; às vezes até para cargos mais elevados. Resultado: de quem é a culpa da corrupção? Do povo, claro. Todos são sabedores dos atos de corrupção, no entanto, ajudam a manter os corruptos no poder.

Então, com a máquina de surras, sempre que se noticiava um caso de corrupção, um sofisticado sistema de informática indicava os eleitores do corrupto e todos eram levados à máquina de surras. Lá dentro, com todos bem trancados, braços robotizados baixavam a lenha nos eleitores, de forma que todos eram punidos, e bem punidos, por colaborar para com a corrupção. Quanto aos corruptos, eram deportados para regiões polares e lá ficavam para o resto dos seus dias.

Ao longo do tempo, e com o funcionamento ininterrupto da máquina de surras, acabou-se a corrupção. Parlamento e governo funcionam que é uma beleza. Entretanto, um dia antes de eu voltar, fui informado: "io,murunnbgre4232=-08k,dkkkk"."

Perplexo, quis saber o porquê daquilo. "Aquilo", aquelas garatujas que vocês viram acima, dizia o seguinte: um sujeito iria logo mais ser levado à máquina de surras. Motivo? Fora descoberto que ele havia forjado documentos que permitiriam a imigração de grandes contingentes de corruptos, dotados de gênio assombroso em práticas de malversação de recursos públicos, chantagens, suborno, peculato e formação de quadrilhas de colarinho-branco. O objetivo era beneficiar uma multinacional, notória poluidora do meio ambiente.

Fui assistir ao ato. O sujeito chegou e foi jogado lá dentro. Depois de mais de meia hora perdido nos corredores da máquina de surras, saiu só o bagaço. E quando ele, cambaleando, perguntou: "Aonde fica o Brasil? Preciso ir para lá", parei, perplexo. Dei um jeito de escapulir de mansinho, peguei o primeiro avião e fugi. Não queria me meter em confusão.

Aqui chegando, surprise! O tipo havia chegado antes de mim e já estava fazendo comício. Era candidato a senador. E com grandes chances de ser eleito.

Em silencioso pânico pedi: "Deus, mandai-nos uma máquina de surras..."

Emanoel Barreto

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