Cara Amiga,
Caro Amigo,
No momento em que escrevo, Lindemberg Fernandes Alves, o seqüestrador da jovem Eloá estava pedindo a presença de alguém que seja torcedor do São Paulo Futebol Clube, para ajudar nas negociações. Antes, ele havia estendido na janela uma camisa com o emblema do time. Revelando-se um negociador talentoso tentou criar, com a atitude, um liame afetivo com a numerosa torcida do time. A TV informava que um diretor do São Paulo iria se apresentar para interferir, a fim de que a situação tenha logo um desfecho e que este seja o menos traumático possível.
A sensação de que sua atitude se tansformava em espetáculo televisivo, um realitiy show de alto impacto, sem regras e capaz de mobilizar largamente o público, fez com que ele agora tenha atitudes de estrela. São os efeitos perversos do jornalismo intensivo da TV. Um acontecimento que poderia muito bem terminar após uma negociação bem dirigida, agora ameaça tomar rumos imprevisíveis.
O rapaz, que demonstrou ser ou pelo menos estar em situação psicológica de desequilíbrio, pode assumir-se como estrela de mídia e querer criar seu espetáculo; espetáculo a que deu margem a cobertura intensiva e ao vivo a Record News. Claro, rádios e jornais também cobrem o fato e isso retroalimenta seu efeito dramático.
O jovem considera-se vítima. Agrediu a moça para se apresentar como tal. E nada melhor para uma vítima, que na verdade se vitimizou, que parecer assim aos olhos da multidão de telespectadores. E assumindo-se como vítima, terá o palco grande da TV para encenar loucuras que, sem a TV, certamente não teria encenado.
Emanoel Barreto
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