Cara Amiga,
Caro Amigo,
O desfecho do seqüestro deu-se dentro de um panorama bastante previsível. Um desequilibrado, tonto de amor doentio, acabou trazendo ao reality show a face horrenda da dor televisada. Até que ponto a TV pode ser responsabilizada, é um fato a ser analisado depois, à luz de dados que a própria imprensa deve e tem de trazer a público.
Por enquanto, a imprensa questiona a ação da polícia. Mas, qual a influência do noticiário ao vivo que a TV teve sobre o criminoso? Uma mente perturbada, um ego ferido em seu amor próprio, em sua vaidade, em sua ânsia de ter como objeto seu uma segunda pessoa tem, sim, território emocional fértil para ali semear suas insanidades, mesmo que momentâneas.
O matador sentiu-se inequivocamente o ator principal dessa tragédia. No pequeno apartamento, ali estabelecido o seu mesquinho império, ele ditava sua lei. Era algoz, mas se supunha vítima e isso era o suficiente para exercer o seu domínio sombrio. Com a TV veiculando milhares de vezes seu nome, alardeando sua lamentável notoriedade, o criminoso via-se como que amparado.
Os apelos, as tentativas de negociação, validavam, para ele, a centralidade de sua figura, a suposta pungência do seu drama. Ele superdimensionava sua dor. Ele e o seu escuro amor eram o centro do mundo. E o largo palco da mídia dava-lhe a sensação de ter razão. Deu no que deu. O jornalismo precisa pesar muito sua disposição para dar cobertura a acontecimentos assim.
A polícia precisa estar melhor preparada para agir.
Emanoel Barreto
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