terça-feira, 28 de outubro de 2008

Morreu o filho

Luquinha passava em frente a uma mansão, onde havia uma grande multidão. Luquinha, desempregado, morador de palafita; somente ele e a mulher. O único filho morrera por falta de um remédio, que ele não pudera comprar. Ficou meio louco deste então. Andava a esmo, passava dias sem ir em casa.

E Luquinha parou: queria saber o que acontecia. A polícia cercava a casa. Era um seqüestro. Dentro da mansão, um bandido que fugira dos policiais mantinha sob mira arma um menino, filho do dono da casa. Como se chamava o homem, o dono da casa? Seu Macieira, alguém disse.

Luquinha calou. Rodeou a casa. O cerco fora mal feito e ele encontrou um jeito de entrar na casa. Saltou o muro alto, correu ao lado da deliciosa piscina, entrou pela porta dos fundos. Caminhou em silêncio e viu que o bandido e o menino estavam na sala, ele falando ao celular com a polícia.

Luquinha foi ao primeiro andar, mexeu numas gavetas no quarto do casal e encontrou uma arma.
Atirou-se escada abaixo. Parou, mirou no bandido e mandou:

- Se vira pra mim! Se vira, vagabundo! Se vira, que é pra morrer!

O homem tremeu. Empurrou o menino de lado e voltou-se para Luquinha. Queria se defender. Inútil. A bala do 38 pegou-0 na testa e ele desabou. A polícia então invadiu a casa. Quando os agentes entraram, encontraram a seguinte cena: Luquinha deitado de bruços, demonstrando rendição, o bandido morto e morto também o menino.
Seu Macieira entrou e seu rosto assumiu a feição de uma máscara da morte. Dirigiu-se a Luquinha e quis saber:

- Quem é você? Como entrou aqui? Matou o bandido depois que ele matou meu filho?- Não - respondeu Luquinha. - Matei o bandido e matei seu filho.
Seu Macieira estava perplexo: - Por quê?

Luquinha respondeu: - Se lembra aquele remédio que você me negou, naquele dia em que fui lá na sua farmácia? Eu ia receber dinheiro no outro dia e ia lhe pagar. Mas não, você não podia esperar. Morreu meu filho. Agora morreu o seu.

Emanoel Barreto

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