sexta-feira, 31 de outubro de 2008

E a turma toda pede Obama

A quatro dias da eleição presidencial dos Estados Unidos, o mundo conspira Obama, espera e pede pela sua eleição. Um sentimento de que algo de podre no reino da Coca-Cola precisa e pode ser levado ao charco da história. É como se alguma coisa nova, essencialmente nova, estivesse por acontecer. Especificando: retirada das tropas do Iraque, redução do imperialismo americano, bondade distribuída à mancheia.

Melhor seguir em marcha lenta: a rigor, as pessoas não sabem exatamente o que ele pensa. Seu discurso foi programado para abranger o máximo possível de público, tornando-o simpático à eleição daquele que poderá vir a ser o primeiro presidente negro dos EUA.

"Obama é o candidato favorito de 42% da população de várias cidades do mundo, enquanto apenas 12% votariam em seu adversário republicano, John McCain, segundo pesquisa da rede de TV britânica BBC." Essa informação está nas coisas de jornal da Folha.

De alguma forma, Obama é visto como a antítese de Bush, que por sua vez é, socialmente, a encarnação do mal. Nesse jogo de dualidade bem/mal, a balança pende para o lado do "bem". E quem "é" o "bem"? Obama, claro. O raciocínio maniqueísta e simplificador do senso comum funciona sempre assim: de maneira a reduzir tudo a oito ou oitenta.

Esquecem as pessoas que ele é, antes de tudo americano, antes mesmo de ser negro. Tanto que está aí, candidato com chances reais de vitória. É irrecusável que sua presença será sempre melhor que a de Bush. Mas não se pode esquecer que sua alma é a de um norte-americano. E todo americano pensa assim: "God bless America...". Do mesmo modo que nós dizemos: "Deus é brasileiro..."

O trabalho de marketing é exatamente esse: produzir um personagem. Personagem que, depois de eleito, dará lugar ao pragmatismo do homem, o que nos remete a representante do establishment, da velha ordem americana.

Também espero que seja eleito. Mas tenhamos paciência para o que trará em termos de política externa. Será positiva a presença de um negro na presidência; como símbolo, como indício de um princípio de mudança. Mas, daí à sua idealização, heroicização, caímos no terreno da fantasia. E isso não é bom. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
Emanoel Barreto

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