quinta-feira, 5 de junho de 2008

O pobre Pensador

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A figurinha baixa, plana, esvaecida, não é só a visão de um menino d'África. É a prova mais viva, triste, e de má sina, dos que estão no mundo e cumprem fado acabrunhado.
Ele ele não tem o talhe, o porte, o enigma silente; a dúvida elegante da estátua de Rodin; mas conta toda a história das gentes encardidas, sujadas que foram pelas mãos do invasor.
O pobre Pensador traz a fome tatuada na boca e espera, só espera. Sabe que as feras caminham soltas e não há como escapar à patada rija, o grito quieto, preso em tanto medo.
O pobre Pensador talvez nem pense. Sua alma está cansada demais, até de respirar. E fica ali parado, curvo e sem esteios, pois nem ao menos sabe o que é saber.
Seu presente diluiu-se, seu futuro foi descaminhado, seu passado nunca houve. Talvez ele seja só uma alucinação. Mas é tão forte no olhar perdido que, não, ele é uma verdade. Uma verdade exausta e fome, que já nem percebe o que é padecer.
Pensemos.
Emanoel Barreto

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