terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A voz sinistra do Mão Branca

Caros Amigos,
Minha Filha lembrou-me aqui meus tempos de repórter policial. E pediu uma história. Lembrei-me do seguinte: Natal, nos anos 80, Natal foi varrida por uma onda de violência que tinha começado no Rio, onde alguém, que se identificava como Mão Branca, estava matando bandidos, todo santo dia. Aqui, foi imitado.
Aqui, alguém que também se identificava como Mão Branca, começou uma ação de extermínio. Um matador, ou matadores ferozes, nunca se soube exatamente quem, atacava bandidos e deixav junto aos corpos mensagens anunciando que outros teriam o mesmo destino. E assinava: Mão Branca.
O matador chegou mesmo a enviar aos jornais uma lista com nomes. Num desenho grosseiro, um punho masculino segurava uma balança onde, em cada prato, estavam os nomes. Polvorosa no mundo do crime. Reduziu-se em muito o número de assaltos. Não havia dia em que, pela manhã, os repórteres não encontrassem, em terrenos baldios, corpos de criminosos assassinados.
Então, numa manhã de sábado, eu estava na redação da Tribuna do Norte, quando um dos telefones tocou. Atendi. Do outro lado, uma voz metálica, forte, sinistra e tensa, anunciou: "Aqui é Mão Branca. Com quem falo?" Cobri o fone com a mão para ele não ouvir e gritei: 'Pessoal, cala a boca todo mundo, que eu estou com Mão Branca no telefone!'" A redação parou. Um largo silêncio aguardava o desfecho do telefonema.
Voltei a falar com aquela misteriosa voz e respondi: "Fala com Barreto." Ele retrucou: "Pois bem, Barreto, vá até as proximidades da Alpargatas, que você vai encontrar mais um." Quando tentei continuar a conversa, o sinistro personagem calou. Mas, antes disse: "Procure, Barreto, que você encontra." Ouvi um clique e a ligação estava terminada.
Não pensei um minuto : chamei Ivanízio Ramos, um fotógrafo pé-quente, meu velho amigo, e saímos voando da redação em direção a um dos carros da reportagem. A direção estava entregue à perícia de Leonardo, chefe do setor de transportes. Leonardo era atirado, corajoso e manejava com firmeza o volante. Acho que aquele Fusca nunca correu tanto, quando naquele dia.
Leonardo saiu costurando o trânsito. Se dava, ele cortava o sinal; se não, encontrava um jeito de ganhar a dianteira, logo que o sinal abria. E o carro zunia, numa carreira louca e decidida. Comigo mesmo, eu pensava: "Só espero que a gente não acabe morrendo, com essa história de Mão Branca." E o carro continuava, como se tivesse vida e estivesse maluco.
Afinal, chegamos à área onde estaria o corpo. Começamos a andar por locais ermos, estradinhas de barro. Silêncio grande. Somente o vento fazia barulho, agitando as folhas do matagal. O carro, agora, bem devagar. Quando descíamos para procurar o corpo, por precaução o motor ficava ligado e as portas abertas... Cuidado nunca era demais.
Caminhamos pelo meio do mato e nada. Vamos em frente. Nada, outra vez. Retomamos a procura. Depois de mais de meia hora de busca, vimos uma pequena aglomeração. Ao lado das pessoas, alguma coisa parecida com uma cova rasa. Pronto: era ali. Ivanízio preparou a máquina. Chegamos. Descemos do carro e fomos até lá.
Os tipos começaram a cavar. Usavam pedaços da pau, cacos de telha, tudo o que estivesse à mão. Cavaram, cavaram e nada. Afinal, descobrimos: a cova fora um logro. O telefonema uma astuciosa armadilha para chamar a atenção do jornal. Mão Branca não havia matado ninguém. Mas, aposto, o sujeito que fez a ligação devia estar por lá.
Moral da história: repórter tem de estar preparado para tudo. Até mesmo para não encontrar a notícia. Mas, dias depois desse ocorrido, o pesadelo estourava nas manchetes: Mão Branca tinha voltado a matar.
Emanoel Barreto

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, adorei a descrição da reportagem, principalmnete quando citou "que o fusca parecia estar vivi", ri bastante sozinha no meu trabalho( eu acho que pensaram: "Mirna tá ficando doida!!").
Espero mais outras peripécias jornalísticas.
Mirna Barreto.

Anônimo disse...

OBRIGADA POR ESTA NOTÍCIA, A DIAS BUSCO INFORMAÇÕES SOBRE O LENDÁRIO MÃO BRANCA, OUVIA MUITO NA MINHA INFÂNCIA E NUNCA CONSEGUI ESQUECÊ-LO. ADOREI, OBRIGADA!
MARILZA DO RIO DE JANEIRO.

Anônimo disse...

Boa tarde,
Gostaria que você contasse mais sobre a atuação do Mão Branca no RN, pois sou potiguar e pouco conheço essa história. E a internet é muito carente em relação a esta história. E o melhor que eu consegui do Mão Branca foi aqui no seu blog. Obrigado