Caros amigos,
Circula na net uma foto comovente: ao lado da estátua de Carlos Drummond de Andrade, no Rio, um homem pobremente vestido, tendo ao lado um saco plástico, desses de supermercado, conversa com a imagem do poeta. O flagrante mostra-o gesticudando, indicador apontado, como se estivesse defendendo um ponto de vista ou pedindo uma opinião.
O modo como a estátua foi esculpida, dá-lhe impressionante poder de humanizar-se; parece mesmo um homem, calmo, olhando a paisagem urbana, intensa e colorida do Rio, ou, quem sabe, pacientemente ouvindo uma conversa.
Tocou-me, a foto. Aquele brasileiro, bêbado ou louco - quem sabe as duas coisas - representou, ao meu olhar, uma enternecedora e trágica visão do nosso povo. Do nosso povozinho, da nossa patriazinha, como diria Vinícius.
Simplezinho, pobrezinho, aquele homem se dirigia à estátua como quem conversasse com alguém de sua total confiança, trazendo na expressão da face a manifestação de um gesto íntimo de decepção, de emoção intensa e sofrida: um desabafo, uma cobrança. Dava a impressão de referir-se a um terceiro. Talvez reclamasse a respeito deste terceiro, mas tudo feito de forma cordata. Pela express~çao facial, era uma reclamação sem intenção de confronto. Uma exigência de desculpas, quem sabe mesmo a súplica por um pedido de perdão.
E Drummond, em seu saliente silêncio de bronze, mas com um olhar tão humano e tão compreensivo, ouvia pacientemente aquelas palavras e, quem sabe, em sua placidez de estátua não lhe estaria, de algum modo, dizendo o que fazer.
Talvez somente um poeta morto, e sua estátua, transformada em oráculo, nos possa dizer o caminho e indicar as pedras que nele estejam. Talvez, aí, o Brasil encontre seus passos.
Emanoel Barreto
Um comentário:
Caro Emanoel Barreto,
Adoro ler seu blog, suas opiniões a respeito do mundo atual, só estou sentindo falta de você escrever com mais freqüência sobre suas aventuras de início de carreira em especial enquanto jornalista policial!!!
Com carinho,Mirna.
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