sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Coisas feias feitas no escuro

Caros Amigos,

O senador Renan Calheiros, enxovalhado pela publicização de todos os seus atos de viscosidade moral, acossado pela vergonha congressual que está exposta em chaga nacional, caçado pela imprensa como uma besta, tenta agora seu último lance de dados, antes que se decida o seu fim: articula junto aos de sua igualha que a votação a respeito de sua cassação, ou não, no Conselho de Ética, seja feito em votação secreta. Ou seja: o que é feio, sórdido, civicamente pecaminoso, deve ser feito às ocultas, na calada das alcovas políticas mais recônditas. Isso,a fim de que os seus sicários, pela não revelação do voto, não sejam conhecidos, ao mesmo tempo em que estes lançarão, sobre quem deles discorda, a pecha da dúvida: quem salvou Renan? Não se poderá afirmar. Todos serão suspeitos e, ao mesmo tempo, eximidos de culpa. Não fui eu, não fui eu, não fui eu...

As coisas de jornal dizem que ele conta com nove dos dezesseis votos do Conselho. Com isso, o homem estaria livre em meio à escuridão que ele mesmo semeara. Há resistências a esse tipo de votação, mas Calheiros tem a essência dos rochedos submersos. Aqueles que, pontiagudos, põem a pique qualquer embarcação e se mantêm, na escuridão das águas profundas, a salvo, a salvo, a salvo. Nenhum marinheiro os vê, mas eles continuam lá, permanente ameaça a quem seja argonauta do decoro, da decência e da moralidade.

Sou, lamentavelmente, obrigado a concordar com o senso comum: isso só acontece no Brasil. Você imagina tais fatos ocorrendo na Inglaterra, na França, nos Estados Unidos, na Alemanha? Enfim, em qualquer país que tenha uma cultura política digna desse nome? Somente um congresso de indignos, num conciliábulo politicamente infernal, um homem como Calheiros ainda estaria, como está, ocupando cargo tão importante.

De um coisa estou certo: liberto Calheiros das cadeias morais que o tentam prender, calará fundo na nacionalidade um sentimento de repúdio, uma espécie de nojo ao político enquanto estamento. Só espero que esse sentimento coletivo não seja passageiro e venha de alguma forma refletir-se nas próxima eleições.
Ó tempos! Ó costumes!
Emanoel Barreto

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