segunda-feira, 7 de maio de 2007

A tragédia que já aconteceu

A semana começa com as notícias da vitória do Flamengo, a morte de Enéas, a elevação de um conservador à presidência da França, quebra-quebra em São Paulo durante um grande evento cultural, o encontro dos destroços do avião desaparecido na África.
Selecionei esses acontecimentos jornalísticos, assim como poderia ter selecionado outros. Em todos, um elemento comum: a tensão que necessariamente deve recair sobre um fato, para que ganhe status de noticiabilidade.
É claro que há publicações especializadas em amenidades, voltadas para o lado bom da vida: revistas sobre turismo, revistas para mulheres, revistas de fofocas, revistas para o público masculino. Aí, aplica-se a tensão alterando-se semanticamente suas possibilidades, voltando-se seu sentido quanto à possibilidade de o conteúdo atender às expectativas de deleite.
Em ambos os casos um terceiro fator segue de longe a vida: a curiosidade humana para saber de fatos novos, o que se deu, o que se passou, o que se poderá desnudar.
Mas o jornalismo não pode guiar-se unicamente para atender curiosidades, morbidez pelo cotidiano sangrento ou voyeurismo pelas delícias das amenidades. Sua finalidade tem necessariamente que tomar por norte uma compreensão cidadã e respeitosa pela vida, trazer a informação que permita a tomada de decisões e apresentar a opinião honesta.
É preciso dedicação como quem serve a uma causa, ou estaremos todos servindo ao mundo um prato frio: a repetição, por outros fatos, de toda a tragédia que sempre já aconteceu.

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