sexta-feira, 11 de maio de 2007

Foi tudo para o inferno

Ante a omissão do jornalismo brasileiro, especialmente por parte dos jornais nacionais de referência, impressos ou televisivos, cometeu-se um grave atentado à liberdade de expressão: a proibição de venda e recolhimento de livros contando a biografia não-autorizada de Roberto Carlos.

O autor, professor e jornalista Paulo César de Araújo, 45 anos, foi literalmente compelido a aceitar um acordo em que, para não ir à falência, permitu a recolha e destruição dos livros.

O fato foi noticiado em matérias esparsas, ganhou alguma notoriedade, mas ao noticiário faltou algo essencial para que um assunto entre na agenda pública e provoque rumor social: ênfase. Não houve ênfase, não houve insistência temática, não houve pressão, perplexidade ante a ofensa ao direito de expressão, resultando em derrota do autor.

Entendo que o tema em si não é dos mais relevantes: saber ou não de detalhes da intimidade da vida de um cantor não é, efetivamente, algo de importância, salvo em revistas de fofocas ou programinhas televisivos que se arrastam ao longo das tardes.

Mas um valor mais alto se alevantava e esse não foi percebido: exatamente a questão da liberdade de falar, de manifestar-se, a liberdade de expressão. Abre-se com isso um precedente perigoso: quando algum tema importante vier a ser coibido em processo judicial, poderá, em essência, ser comparado ao livro biográfico de Roberto Carlos.

E assim, por inversão de valores, por analogia, a liberdade de expressão poderá sofrer algum revés sério e, aí sim, profundamente preocupante. No mais, é o seguinte: Roberto Carlos quis, e mandou tudo para o infermo.

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