terça-feira, 31 de outubro de 2006

As manchetes da vida

Estou lendo "A fabricação do presente", de Carlos Eduardo Franciscato. É um belo estudo a respeito da questão da atualidade no jornalismo: a temporalidade do presente, a efemeridade dos acontecimentos, como os jornais trabalham na busca pela informação daquilo que esteja em acontecimento temporalmente próximo.

Isso me faz lembrar como tudo é rápido, fugaz e passageiro. Basta tomarmos um exemplo bem recente: a reeleição do presidente Lula. Houve todo aquele processo de luta, os debates, as acusações, o enfrentamento dos dois turnos. E, como num passe de mágica, Lula ganha mais um mandato. Passou. Rápido, não? Pois é: aquele presente... virou História.

Vem agora a expectativa pela nomeação da equipe de governo; os jornais vão tentar antecipar a composição do ministério e, logo mais, daqui a quatro anos, tudo virou passado. Entre o então e o futuro, entre a incerteza e o abismo, entre a salvação e a derrocada o tempo não se mede em segundos, horas, dias ou anos.

Entre um ponto e outro da existência o tempo se mede pelo relógio da espera, que se move com os ponteiros da paciência e da ansiedade. O presente é uma entidade impermanente. Somente percebemos isso quando paramos: na espera do atendimento do médico, na fila do elevador, naquele sinal vermelho que não fecha nunca, na terrível cadeira do dentista. Quando estamos em movimento, entretanto, temos a impressão de acompanhar o presente, segui-lo por todos os caminhos. Não percebemos o tempo passar.

E afinal, quando olhamos aquele jornal amarelado, aquela revista envelhecida, as fotos dos galãs hoje velhotes, a visão das divas agora velhas, percebemos como tudo passou e bem depressa. As manchetes nem sempre se confirmaram e o tempo passou, silencioso e sério.

Os jornais podem até fabricar o presente. O que não podem é garantir que, como lembrança, história ou marco de tragédia ou comemoração, o presente venha a ser algo que valeu a pena ser vivido com a alma lavada de ansiedade ou medo. Como os jornais, a vida também tem suas edições. Compete a cada um de nós saber compor sua manchete.

Um comentário:

Luís disse...

Como você achou este livro? Há meses o procuro. Obrigado por qualquer informação.
Abraço,
Flávio Pellegrin