segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Lula leu Maquiavel?

Reeleito o presidente Lula, saímos da fase dos sonhos gerenciados pelo marketing, para entrar no chão às vezes firme às vezes instável da realidade. O governante, para liderar, deve reunir virtudes que vão da serenidade frente ao momento da vitória à sabedoria para dosar sua convivência com os contrários, sem que destes se torne cúmplice ou submisso.

O presidente Lula terá que administrar bem sua convivência com os contrários, seja aqueles que são adversários, mas que que o apoiarão a troco da divisão do bolo do Poder, seja daqueles que o acossarão como oposicionistas, ferrenhos e às claras. Será um governo politicamente difícil.

Vejamos: os contrários que se aliarão a ele sob o soldo de participar do poder são como os mercenários, tropas cujo uso Maquiavel desaconselhava. São estas, por sua natureza, inconfiáveis: lutam por vantagens e debandam quando sentem-se em risco ou não recebem tudo o que pretendiam. São, como muito bem afirma a expressão, "soldados da fortuna". E podem muito bem bandear-se para o lado dos inimigos.

Maquiavel atribuía à palavra fortuna o sentido de sorte, o imponderável, a álea histórica de cuja contextualização brotam as condições favoráveis ao príncipe, para que este chegue ou se mantenha no poder. E à palavra virtù, as qualidades do líder que tem a compreensão exata do momento que vive, e que de alguma maneira desencadeou, para assim tomar as medidas mais adequadas com o objetivo também de empoderar-se.

Aparentemente Lula reuniu os dois requisitos. Tanto que se reelegeu. Agora virão os desafios: as esperanças do povo versus os apetites elitistas de quem quer manter privilégios históricos em detrimento de valores como saúde, educação, seguridade social, salários dignos, emprego, perspectiva de vida e a utopia que cada ser humano tem de ser feliz.

Vejamos até que ponto o presidente Lula, com as alianças que fará, estará mais voltado para o social ou sintonizado mais finamente com os grandes interesses dos grupos de pressão.

Lula pode até não ter lido Maquiavel, mas certamente fará um governo de sobrevivência, sua e de seu grupo, seguindo, mesmo intuitivamente, as regras fluidas da preamar política. E, se assim o fizer, não tenhamos dúvida de que os grandes vencedores serão os mercenários. E, deles, Maquiavel não gostava.

Um comentário:

Marco Aurélio disse...

Emanoel

“Consumatum est. Mais quatro anos de mentiras, roubalheiras, falta de crescimento,viagens no Aerolula, etc, etc, etc. Merecemos. Também a alternativa era péssima.” Estas foram as palavras do meu pai, quando soube da vitória de Lula. Espero que ele esteja errado!

Um abraço

Marco Aurélio