segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Um encontro solenemente vergonhoso

Teremos hoje mais um debate, o penúltimo, entre os presidenciáveis. A rigor, trata-se de uma encenação, um pseudo-acontecimento, um acontecimento midiático, ou seja: traçado e incluído na grade de programação de uma TV, no caso a Record, com o intuito de apresentar aos telespectadores um espetáculo, mesmo que seja o espetáculo da falsa discussão dos destinos nacionais.

O embuste, que conta com a participação por inteiro dos dois candidatos, cumprirá um ritual telejornalístico aliado a uma atitude cênico-teatral: os candidatos tentarão se apresentar segundo um padrão apolíneo. Só que aí a condição apolínea não estará ligada à situação do deus grego da beleza viril e da música: mas ao perfil daquele que representaria a face mais bela da política brasileira.

Como disse em comentário anterior, os debates viraram uma espécie de novela. Este será o penúltimo capítulo. O grand finale, como seria óbvio, caberá à rainha mãe da dramaturgia televisiva da tragédia brasileira, a Rede Globo. Será sexta-feira próxima, em horário ainda indefinido, pelo menos ao instante em que este artigo era escrito.

Creio que nada haverá de novo ou emocionante, já que estamos falando de um espetáculo. Os dois atores estarão representando seus papéis. Alckmin tentanto alckmizar a situação brasileira garantindo que, do seu governo, brotará a pedra filosofal que transformará tudo em ouro e, quem sabe, até mesmo será possível obter o elixir da longa vida - também objetivo dos alquimistas tradicionais, como nos relata a história.

Lula, garantindo que tantos milhões de brasileiros atingiram a condição de pessoas de classe média e as coisas vão continuar melhorando. São ambos atores adestrados e aptos a buscar o voto do povo. Lula leva a vantagem de que pegou, como no no gancho seco e rápido de Popó, o adversário Alckmin em seu ponto fraco, ao alertar que, eleito, este continuará a sanha privatista de FHC.

Pronto. Foi o suficiente para que a maioria dos votantes se bandeasse para o lado do candidato do PT que, por precaução, não usa mais a estrela vermelha do partido, mas outra, em tom verde e amarelo. Por precaução, é melhor não mostrar que ainda mantém convivência partidária íntima com indívíduos de, vejamos, poucos escrúpulos políticos, não é mesmo?

No mais, é esperarmos o espetáculo da noite. Cada um cumprirá seu triste papel de tentar se mostrar ao povo como bom e justo. Na verdade, teremos apenas um confronto solenemente vergonhoso de dois homens que, embusteiros, cúmplices de corruptos, vão dizer ao povo que, cada um sim, é o melhor.

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