"Se o povo não tem pão,
que coma brioches."
Rainha Antonieta,
Elegância, distinção, finesse e delicatessen na hora do lanchinho. Foi com esse look e comportamento que Sophia, filha do tucano Geraldo Alckmin subiu ontem a favela da Rocinha, no Rio, tentando ajudar o pai a arrebanhar votos à sua acanhada campanha pela presidência da República.
Li isso hoje na edição de hoje do JB on line. A menina vem a ser ex-gerente da Daslu, a mais chique loja do país, cuja clientela é composta por dondocas e ricaços, que ali encontram de tudo para satisfazer às suas necessidades narcísicas, à sua incontrolável vontade de parecer belos por fora, já que, por dentro, são seres moralmente ocos, cheios desse vazio que se chama consumismo.
A Daslu é aquela loja, aquela mesmo, que de vez em quanto vive aparecendo nos noticiários por fraudes, sonegação de impostos, contrabando, essas coisas, você sabe...
Diz o jornal: "No calor de quase 40°, a ex-gerente da Daslu, a loja mais cara do país, percorria as vielas da Rocinha. Com uma bolsa da grife italiana Prada atravessada ao corpo, Sophia passava despercebida entre casas e palafitas. Não seria assim, se estivesse só. Mas à sua volta estavam dezenas de seguranças e cabos eleitorais do pai, Geraldo Alckmin."
Seguranças, claro. Já pensou Sophia sendo abordada por algum moleque pedindo um pão? Sorry, periferia...
O texto mostra com clareza o nível de hipocrisia, desrespeito, até mesmo uma certa falta de decência por parte da moça. Dela e do seu pai. Aos 26 anos, ingressou na campanha certamente pensando que sua elegância será suficiente para impressionar outras jovens da favela, para que comprem objetos de uso iguais aos seus.
E, identificando-se com aquele ícone humano e exuberante, venham a adotar um comportamento igual ao seu na hora de votar, a partir da um raciocínio: seja elegante, vote Alckmin.
É sabido que, na sociedade massificada de hoje, produtos de marca são logo pirateados, para atender a um público de baixo poder aquisitivo que, na tentativa de imitar os setores de elite, compram em camelôs objetos similares.
É a reprodução do comportameto e way of life, o discreto charme da burguesia, enganando, pela reprodução falsificada de seus costumes, aqueles que, não podendo ter uma vida melhor, plastificam suas próprias vidas, obscuredendo intimamente seus dias de pobreza. E, com isso, o povo vai sendo levado na conversa.
Considero esse tipo de comportamento uma ofensa, uma afronta, uma agressão àqueles que têm no voto o único meio de tentar mudar a vida desse país. O JB diz ainda que o acessório da jovem, a tal bolsa, custa 1.500 reais, equivalente a cinco meses de aluguel em uma casa de quarto e sala na Rocinha.
E mais: informa que a filha do candidato exibia no visual tênis verde, calça jeans e blusa azul. Tudo, certamente, das melhores grifes da Daslu. Não sei, mas, na dificílima hipótese de eleição de Alckmin, certamente Sophia deverá ser nomeada para algum Ministério da Elegância e Etiqueta.
Afinal, como Maria Antonieta na França, ele certamente entende que o povo - quando pode - come pão. Mas sabe que, em locais distintos, poderia muito bem comer brioches. Então, por que o povo não come brioches? O povo brasileiro precisa refinar seu paladar, conhecer cartas de vinho, usar melhor os talheres. Realmente, não dá para entender o mau gosto dessa gente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário