terça-feira, 12 de setembro de 2006

O espetáculo do sofrimento cintilante

O Bom Dia Brasil de hoje repercutiu a entrevista televisiva da jovem Natascha Kampusch, a austríaca hoje com 18 anos, que ficou oito anos em cativeiro após ser seqüestrada por um homem que assim a manteve, presa a um cubículo suberrâneo.

As informações da Globo indicavam que ela controlou todo o espetáculo. Estava bem informada a respeito de atualidades, agiu com plena convicção e controle de gestos e palavras: escolheu as perguntas a que responderia, definiu posturas, dialogou com firmeza com a equipe de produção do programa e soube se impor como estrela de seu próprio drama. Está ganhando muito dinheiro. Integrou-se ao circo midiático.

Seu pai, ainda segundo a Globo, também está ganhando dinheiro, só que para criticar a filha, quando afirma que ela está se expondo muito e que deveria se cuidar mais, atentar para seu estado psicológico...

Trata-se de um jogo, uma perversão jornalística, onde todos falsificam sua realidade, objetivando falsificar a realidade dos demais. É a sociedade do simulacro, como diria Boudrillard, o imaginário impulsionando a ficção da realidade.

Logo, logo vem aí um livro, a Globo também confirmou.

O gesto de vender a própria miséria é degradante. E quando mais se ganha esse dinheiro, mais se empobrece quem com ele se enriquece. A exuberância da dor, mais do que nunca, está rendendo dinheiro.

Mais de 400 veículos de comunicação do mundo queriam uma entrevista. Só que isso, esse espetáculo de sofrimento cintilante, não é informação. É degradação a olho nu. Aparentemente, ela não está sofrendo. Creio mais que está sorvendo.

Um comentário:

Paula Barbosa disse...

A mídia praticamente comanda tudinho se deixarmos. De horrorizados com o que foi feito à essa menina passamos a admiradores de seus gestos e modo natural diante das câmeras. Virou negócio.
Um bom filme sobre o poder da mídia e da política é "V de Vingança".
Beijo