O Bom Dia Brasil de hoje repercutiu a entrevista televisiva da jovem Natascha Kampusch, a austríaca hoje com 18 anos, que ficou oito anos em cativeiro após ser seqüestrada por um homem que assim a manteve, presa a um cubículo suberrâneo.
As informações da Globo indicavam que ela controlou todo o espetáculo. Estava bem informada a respeito de atualidades, agiu com plena convicção e controle de gestos e palavras: escolheu as perguntas a que responderia, definiu posturas, dialogou com firmeza com a equipe de produção do programa e soube se impor como estrela de seu próprio drama. Está ganhando muito dinheiro. Integrou-se ao circo midiático.
Seu pai, ainda segundo a Globo, também está ganhando dinheiro, só que para criticar a filha, quando afirma que ela está se expondo muito e que deveria se cuidar mais, atentar para seu estado psicológico...
Trata-se de um jogo, uma perversão jornalística, onde todos falsificam sua realidade, objetivando falsificar a realidade dos demais. É a sociedade do simulacro, como diria Boudrillard, o imaginário impulsionando a ficção da realidade.
Logo, logo vem aí um livro, a Globo também confirmou.
O gesto de vender a própria miséria é degradante. E quando mais se ganha esse dinheiro, mais se empobrece quem com ele se enriquece. A exuberância da dor, mais do que nunca, está rendendo dinheiro.
Mais de 400 veículos de comunicação do mundo queriam uma entrevista. Só que isso, esse espetáculo de sofrimento cintilante, não é informação. É degradação a olho nu. Aparentemente, ela não está sofrendo. Creio mais que está sorvendo.
Um comentário:
A mídia praticamente comanda tudinho se deixarmos. De horrorizados com o que foi feito à essa menina passamos a admiradores de seus gestos e modo natural diante das câmeras. Virou negócio.
Um bom filme sobre o poder da mídia e da política é "V de Vingança".
Beijo
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