quarta-feira, 20 de setembro de 2006

O Sombra e os Mamonas Assassinas

Sempre que artistas de sucesso morrem em pleno apogeu, vive-se uma realidade bifronte: de um lado, multidões os têm como exemplo, e neles e através deles vive e expurga emoções e gritos presos na alma: o êxtase coletivo funciona como uma instância de, transe, felicidade, deslumbre; do outro, as gravadoras faturam milhões e administram a visibilidade desses artistas a fim de manter a fama e o mito. E o lucro. Claro.

Então, havendo uma tragédia, como a morte precoce em meio ao resplendor da glória, surge uma dúvida que se eterniza a cada desenlace: como estaria ele ou ela hoje, como teria sido a sua produção, sua vida, suas obras? Foi assim com James Dean, foi assim com Janis Joplin, foi assim com Jimi Hendrix, foi assim também como Marilyn Monroe, foi assim com Raul Seixas.

É claro que o tempo, senhor das vidas e dos corpos, faria seus efeitos devastadores sobre esses olimpianos, tornando-os velhos e incompatíveis com o ideal heróico do forever young, do jovem rebelde, guia de uma geração, profeta de novos horizontes.

Estivessem vivos, seria preciso lucidez e grandeza, maturidade e dignidade para apresentar a continuidade de sua obra. Ou suspendê-la, como fez Greta Garbo, mantendo-se oculta das luzes e das entrevistas.

Os Stones estão há muito tempo no palco, mantêm-se assim mediante um competentíssimo trabalho de marketing e repetem a si próprios a cada sohw. E os bobos nem percebem. Qual o último grande sucesso da banda? Eu não lembro, afora as músicas dos anos 60 e algo dos anos 70. Mantiveram o mito, mesmo velhos, mas à custa dos esquemas de mercado. São cultuados porque são ricos e estão no topo da cadeia alimentar do mercado. Só isso.

Vejo muita dignidade no velho B. B. King e em Bob Dylan. Souberam envelhecer com grandeza. Mas, o propósito aqui é falar do lançamento de um CD dos Mamonas Assassinas, intitulado "Mamonas Assassinas ao Vivo". São as mesmas músicas do seu único disco, incluindo uma composição com o lamentável título de "Não peide aqui baby", na verdade insidiosa versão para "Twist and Shout", gravada originalmente pelos Beatles.

É uma típica jogada sórdida de gravadora. Além de tripudiar sobre a memória dos bagunceiros Mamonas, ganhando dinheiro às suas custas, traz a público uma versão grosseira, medíocre, que somente era tocada em shows. Tanto, que sequer foi incluída no primeiro e até então único disco do grupo.

Os Mamonas não deixaram uma obra, jamais poderiam fazê-lo, pela primária qualidade do seu material músico-instrumental. Foram, no máximo, uma curiosidade para o deleite de adolescentes tolos e crianças. Foram, entretanto, o máximo para o interesse, a ganância das gravadoras.

Foram, dentro do senso comum, um fenômeno: algo fora do comum, extra-ordinário, que, de repente, pronto, passou, acabou-se, vão embora. Lamentavelmente, foram embora num brutal e estúpido acidente aviatório.

Mas, agora, o apetite macabro da gravadora EMI descobre esse tape, gravado em um show e traz a público a versão. Vai vender muito? Vamos esperar. Suponho que não.

E, aproveitando a oportunidade, vale a pena lembrar a frase que abria os capítulos do seriado "O Sombra", de Moisés Weltmann, autor também de Jerônimo, o Herói do Sertão: "Quem sabe o mal que há no coração dos homens? O Sombra sabe."

E isso mesmo: nesse terra Brasil, somente o Sombra sabe, somente o Sombra sabe...

Um comentário:

Anônimo disse...

Desculpa, mais acho que você foi muito "CRUEL" ao escrever isso.
Ah , e pra vc ver, tudo que vem dos mamonas faz sucesso, não só antigamente, mais sempre. Seus fãs nunca vão esquece-los, e pra sua surpresa, fez sim sucesso o que a EMI fez. E não " Passou " nada não.
Já sei o que está pensando, é de adolescentes ingênuos assim como "essa daí" que retiram dinheiro. Más eles não pensam assim como você e nem todo mundo só pensa nisso, há coisas mais importantes na vida.
Ah.. Eu sei que não vai aceitar a publicação desse comentário no site, assim como não deixou o de muitos que escreveram assim como eu, mais isso é pra você saber, que ao contrário do que disse, os mamonas nunca vão ser esquecidos. Eles foram TUDO!