sexta-feira, 22 de setembro de 2006

O latifúndio dos mandatos e as bocas cândidas

Com a descoberta da compra do dossiê contra os tucanos por gente do PT, muito próxima ao presidente Lula, volta à tona a questão da respeitabilidade ou não do Partido dos Trabalhadores, a honradez do presidente que não sabia de nada, as ações da imprensa conservadora para desestabilizar o governo, a indecisão do presidente em participar do debate a ser promovido pela Rede Globo dia 18 próximo. Coisas do tipo.

Todos querendo dizendo que são bons, dignos e justos.

Na verdade não há santos na cena política brasileira, assim como não há santos em nenhum campo de disputa de poder, o que inclui, por exemplo, o Vaticano, onde as escolhas dos papas são sempre precedidas de grandes negociações interna corporis. Na eleição do último papa li em algum jornal que os cardeais não pretendem mais eleger um papa como João Paulo II, cuja idade ao assumir o cargo o fez permanecer muito tempo em seu pontificado.

Ou seja: papa bom é papa que não viva muito, para que sempre alguém esteja subindo ao trono de Pedro, segundo o que manda o figurino pós-moderno: tudo deve passar rápido, como o tempo acelerado e vazio de hoje em dia.

Mas o que quero dizer mesmo é que, com dossiê ou sem dossiê, seja ele falso ou verdadeiro, temos apenas mais um, somente isso, mais um tumulto de seres humanos, tão humanos e tão feios em seus defeitos morais, apetites e simulações.

Lula está alegando que poderá não comparecer ao debate da Globo pois, enquanto presidente, é "uma instituição" a qual, desta forma, não pode ser atirada a uma arena de adversários que, entende, irão martirizá-lo com questões sobre o dossiê.

Quando candidato derrotado à presidência, em disputas eleitorais anteriores, comparecia aos debates e reclamava dos que se esquivavam. Hoje, alega que mudou de posição e assim também teve que mudar de opinião.

O dossiê é apenas a representação da miséria humana em busca do poder. Serra é mesmo parte da máfia dos sanguessugas como diz o tal dossiê? A Polícia Federal deveria apurar.

Mas, no fundo, todos são culpados. A culpa da voracidade política, a volúpia do poder. Bocas candidatas em busca do naco que lhes cabe no latifúndio dos mandatos. E as bocas candidatas não são, nunca foram, bocas cândidas.

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