terça-feira, 4 de julho de 2006

Sobre a entrevista de Marcola

"A força gerada pela não-violência
é infinitamente maior do que a
força de todas as armas inventadas
pela engenhosidade do homem."
Mahatma Gandhi

A respeito da suposta entrevista com Marcola, que está publicada logo abaixo desta nota, a professora e jornalista Sheila Accioly pesquisou e constatou que na verdade trata-se de um trabalho ficcional. A pesquisa foi feita no site Observatório da Imprensa e ela me enviou o endereço: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=387FDS002 .

Abaixo a íntegra da matéria que esclarece como surgiu a tal entrevista. Mas vale bem a pena uma reflexão a respeito da questão da violência e do crime organizado no Brasil. Efetivamente, o Estado não tem apresentado a eficácia que seria desejável, no enfrentamento de uma situação desse tipo. Seja nas origens sociais do crime (atendendo às populações carentes nas favelas), seja na contenção do próprio crime. Leia o texto:

Onde começa e onde termina o virtual

Por Anna Veronica Mautner em 27/6/2006
Um belo dia, há duas semanas se muito, começou a aparecer entre meus e-mails, vindo de conhecidos e também de conhecidos de conhecidos, um texto de três páginas que continha – segundo o título – uma entrevista realizada por um repórter da Globo, anônimo, com o prisioneiro Marcola.

Confesso que fui tomada por um mecanismo que na psicanálise é chamado "mecanismo de negação". Isto é, apaguei o fato de ter estranhado que uma entrevista tão importante não tivesse o nome do jornalista que a tivesse realizado. Preferi não acreditar nesta minha observação que mais tarde, como veremos, teria tudo a ver.

Li e reli a entrevista. Amei. Entre surpreendida e estonteada, andei dias com o papel na mão. Como eu sou analfabeta em máquinas e não sei usar o "encaminhar", só sei usar o "responder" e o "imprimir" – a corrente parou na minha mão. Outros, mais hábeis que eu, continuaram espalhando a entrevista pelo mundo afora. Conversei até não mais poder a respeito do significado de tão maravilhosa entrevista, de tantas respostas pertinentes e argutas.

Quando já parecia estar passando o efeito, eis que me chega na forma de comunicado: a entrevista chegando às mãos de determinado jornalista, parou. Este esclareceu a uma de minhas amigas da corrente que o tal texto era da lavra de Arnaldo Jabor. Este meu amigo, Jabor, tinha inventado uma entrevista fictícia para sua coluna semanal. As perguntas e as respostas eram da lavra dele.

Criação de diálogos

O que de fato me deixou perplexa, me aturdiu, foi que todo um grupo de brasileiros, urbanos, alfabetizados, nível superior, gente do mundo, gente nada ingênua, tenha aceito que a produção intelectual de Jabor poderia ter sido gerada por Marcola que vive, sempre viveu, em um outro universo onde vigoram outros parâmetros e conceitos. Se fosse de verdade, com certeza teria o nome do entrevistador e ainda teria tido seguimento da imprensa.

Dias depois, encontro pessoalmente com Jabor, que tinha ouvido falar de uma certa entrevista do Marcola que estaria circulando, mas ainda não tinha chegado até ele. Ele confessou que não imaginou que se tratasse de sua própria obra de ficção. E assim se fechou a corrente.

Uma dramaturga disse que poderia ter desconfiado, pois a entrevista era obra de alguém afeito à criação de diálogos. Muita gente, pelo visto, estranhou. Contudo, queríamos todos que fosse verdade. Por quê? Ainda não tenho resposta.

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