terça-feira, 4 de julho de 2006

Essas coisas de jornal. Ou, de como as mãos podem agir como se vivas fossem


"O oposto do amor não é
o ódio e sim a indiferença."
Érico Veríssimo

Normalmente, quando vou atualizar o blog, já venho com uma idéia básica, uma proposta de texto encaminhada. Mas agora, não. Não tinha uma idéia pronta, algo esquematizado, faltando somente soltar as mãos sobre o teclado e ver o texto começar a nascer, como uma planta que brota, uma coisa viva, saída, surgente.

Em busca de assunto, passei a ver na net jornais e revistas, textos a esmo, buscando algo para escrever sobre. Ou seja: eu estava buscando coisas de jornal, essas coisas chamadas notícias, esses fragmentos de mundo que aportam às páginas, virtuais ou não, e nos chegam aos olhos, ao conhecimento, à perplexidade, ao medo, à alegria, à expectativa, à indignação, às vezes à comoção e à esperança.

Vi as mesmas e previsíveis informações sobre os jogos finais da Copa, quem poderá ser o novo técnico da Seleção, bombas no Iraque, agentes da lei sendo mortos em emboscadas por marginais, enfim, essas coisas que lemos todos os dias e vemos todos os dias: corrupção, etc...etc...etc...

Então, resolvi ir fazendo estas anotações que você lê, como se minhas mãos fossem dois bichos amestrados, ensinados; mais que isso, mãos que tivessem vida independente e, como seu dono sente-se meio sem assunto, elas tomam o comando e vão redigindo, redigindo, redigindo, escrevendo, jogando palavras no vídeo mágico do computador. Tudo para fechar o nosso contrato de leitura, ou seja: diariamente ou não, você chega ao Coisas de Jornal esperando encontrar um texto novo. E sempre tem algo novo para ler. Então, ficamos combinados assim, sem nunca termos firmado acerto algum.

E agora minhas mãos estão se encarregando disso, de cumprir nosso contrato. Não deu para ressaltar nenhum retalho da vida para um comentário, uma nota, um registro maior que poucas palavras. Mas deu para percorrermos este caminho de letras, sabendo que, fora do computador, o cotidiano pode ser um imenso repertório de repetições, mas todas elas têm uma carga e um peso que muitas vezes, é preciso admitir, nos dão medo.

A repetição dos acontecimentos torna-os banais, aparentemente. Mas quem foi personagem da tragédia, protagonista ou auditório da cena, certamente está de olhos bem abertos. E dá seus passos de sombra em meio a caminhos onde as candeias já foram, de há muito, apagadas.

Sopra o vento. E ele é frio.
As minhas mãos terminaram o texto. Espero ter cumprido o contrato de leitura.

Nenhum comentário: