domingo, 2 de julho de 2006

Seleção, aprecie com moderação

"HAJA O QUE HAJAR, O
CORÍNTHIANS VAI SER CAMPEÃO."
Vicente Matheus,

Pronto, acabou-se o sonho do hexa. A geringonça comunicacional-midiática montada em torno da Seleção Brasileira desmanchou-se tal-qualmente um jogo de armar ao qual retirou-se uma peça-chave: desfeito o engaste, o todo desmorona.
E qual foi a peça-chave? Simples, a realidade. Bastou mostrar a realidade, que o espelho se partiu. Desde o primeiro jogo, e especialmente quando da disputa contra Gana, um time sem tradição, com uma defesa frágil, quando foram perdidos gols literalmente feitos, que a Seleção demonstrava que não teria condições de chegar a mais um campeonato.

O que mantinha a ilusão enquanto prática de manipulação era a matéria da qual essa ilusão era formada: jogadores que, individualmente, são ou eram endeusados pela mídia jornalística e publicitária aqui e na Europa; grandes inversões de capitais multinacionais para manter essa imagem, bem como a memória da prática de um grande futebol, historicamente colada à Seleção.

Tudo isso orquestrado, mercadologicamente organizado para efeito sinfônico-midiático de forma a manter um público cativo, fiel, seguidor e submisso aos ditames dos interesses dos grandes investidores.

Um desses investidores foi a cerveja Brahma, que se apresentava como um dos patrocinadores oficiais da Seleção. Mas a realidade superou a ficção do futebol imbatível.

Apesar da Brahma e de seu patrocínio, veio a despedida, melancólica e aterradora: o futebol é apenas um jogo, a Seleção não é o Brasil. O Brasil real é aquele do dia a dia, do salário curto, dos políticos corruptos, da escola de má qualidade, do assalto, do crime. O Brasil de um processo histórico onde o povo nunca fez a sua hora.

Mas a máquina publicitária, o interesse do grande capital não tem limites. Tão logo a Seleção retirou-se da humilhação ocorrida frente às mesmas câmeras da Rede Globo, emissora da qual a Seleção é uma propriedade a ser exibida no vídeo, a Brahma veiculava para todo um País um comercial com Zeca Pagodinho, em que ele faz uma convocatória, diz para esperarmos até 2010 e reafirma o compromisso da cervejaria em continuar patrocinando a Seleção.

Mais claramente: ciente de que estava patrocinando uma espécie de ilusão de ótica coletiva, a Brahma já admitia o desmonte de todo o jogo de mídia que se fazia em torno dos supostamente imbatíveis jogadores brasileiros.

Tanto, que já tinha pronto o comercial paliativo. Como certamente já tinha pronto outro, louvando os "vencedores", caso tivesse havido mais um avanço da Seleção. Mais claramente ainda: no jogo da formulação de símbolos não há sinceridade alguma, é tudo aparência e nada mais. Em suma: vamos tentar de novo?

Mas o comercial é perfeito, tecnicamente: foi escolhido um dos grandes gênios da música popular brasileira, pagodeiro de raiz e compositor de méritos, portanto, legitimado para ser apresentado como alguém do povo; o cenário também é uma perfeição: de costas para a saída de um túnel de campo de futebol, ele tem ao fundo, bem ao fundo, um céu cheio de estrelas, aquelas que Ronaldo, nos comerciais de Brahma, queria atingir com seus chutes para emplacar a estrela do hexa; e afinal, após fazer embaixadinhas e malabarismos como a bola, Zeca Pagodinho propaga uma mensagem em que apazigua os ânimos malferidos da nação cinzenta, aponta o indicador e faz o gesto clássico em que gira o dedo e diz que, lá na frente, em 2010, tem mais Copa - e que a Brahma será, sempre, patrocinadora oficial da Seleção.

Em matéria de técnica publicitária um primor. Em matéria de manipulação, mais um tiro certeiro da grande empresa. Mas, parodiando a citação de Vicente Matheus, ditgamos: "Houve o que houveu e o Brasil não foi campeão." No mais, do mesmo modo que em matéria de Brahma deve-se apreciar com moderação, em se tratando de Seleção, acredite com moderação...

2 comentários:

Anônimo disse...

Barreto, todos sabem que em qualquer jogo alguém ganha e alguém perde. Perder é normal, é aceitável, faz parte do jogo. Vergonha intragável é perder sem lutar, principalmente se você representa uma nação. Eu penso assim: Ou aquele grupo não sabe o que é lutar ou não sabe o que é NAÇÃO.

Marco Aurélio disse...

Emanoel

Nunca vi NENHUM jogo a não ser o de ontem onde um time só consegue chutar contra o gol adversário aos 45 min do segundo tempo.

Um abraço

Marco Aurélio