terça-feira, 20 de junho de 2006

Um jogo de futebol que virou um jogo de espelhos... distorcidos

"Dai ao povo pão e circo."
Ditado romano

O jogo da Seleção contra a Austrália deu bem uma mostra não apenas da qualidade de entrosamento entre os jogadores brasileiros, bem como, acima de tudo, demonstra como acontecimentos de grande porte, como a Copa do Mundo, estão a serviço de grandes investidores internacionais, numa espécie de processo de fraude, simulacro de manipulação.

Tomando como exemplo a triste figura de Ronaldo, vejamos: antes do início do jogo, a Rede Globo veiculou um videoclip, quando o cantor Marcelo D2 enaltecia a figura olimpiana do jogador, cujas imagens eram literalmente reluzentes, como se o próprio Apolo estivesse em campo. A camisa amarela da Seleção rebrilhava, como se de repente um representante do panteão grego tivessse descido à Terra para deslumbrar os olhos dos mortais ante sua presença divina.

O clip todo estava voltado para o enaltecimento das qualidades heróicas de Ronaldo, com chutes magníficos, gols sensacionais, soerguimentos dramáticos, quase martirizados do atleta, após agressões de adversários. Uma pergunta: por que isso? Por que esse foco numa só pessoa, quando futebol é jogo de equipe, é ação técnica e tática, é comportamento coordenado, conjugado?

A resposta é simples: tem muito dinheiro investido em Ronaldo, dinheiro de multinacionais, fortunas de risco aplicadas nos pés de um homem. E a Rede Globo tem também, claro, seus interesses comerciais, que não são poucos. Então, vamos louvar o grande craque.

O que se viu, no entanto, foi uma figura bisonha, jogando convencionalmente. Ronaldo é um dado desse grande acontecimento midiático que é a Copa. Um acontecimento desse tipo envolve toda uma grandiosa e dispendiosa estrutura humana e material e tem seu suporte na crença que inculca em milhões de pessoas de que ali está se passando algo fenomenal, importantíssimo, imperdível. Perdendo-se a visão de tal acontecimento, o ser humano estará alijado de um certo sentimento de pertença àquele grupo global instantâneo e fugaz. Quem perdeu de ver, perdeu de viver.

Além disso, é essencial ao acontecimento de mídia, programado e estetizado, que haja dois públicos: o público que o assiste ao vivo, e o público que o vê ou nos telões ou nas TVs.

É preciso na realidade um meta-acontecimento, um acontecimento dentro do outro, um impulsionando o outro, para gerar a ilusão de que todos estão congraçados e participantes, quando em verdade estão sendo utilizados, para as finalidades lucrativas dos grandes empreendedores.

É preciso que eu saiba que muitos estão vendo os jogos ao vivo, ao mesmo tempo que aqueles também sabem que estão sendo vistos. O jogo é o motivo, mas o público também é espetáculo.

Eis aí explicado o grande mistério para a manutenção de Ronaldo na equipe: dinheiro. Muito dinheiro investido num jogador que por muitos motivos, além de sua tendência a engordar, não está bem mas que precisa ser apresentado como "fenômeno."

Se você viu o jogo de domingo, uma pergunta: por que, após a disputa, Galvão Bueno, o mesmo que tinha "tantas esperanças" na recuperação de Ronaldo, não deplorou seu pífio desempenho? Por que o assunto foi "esquecido"? Pelo fato simples de que não há interesse econômico em abordar algo a respeito de investimento tão malfadado, como foi esse que o grande capital internacional e a Rede Globo fizeram em Ronaldo.

Mas vamos ver, vamos ver até aonde o Brasil chega. E só para encerrar: Casagrande, um comentarista que suponho seja digno de respeito, já advertiu: do jeito que a Seleção está, é um perigo enfrentar a equipe de Gana. Já pensou, a que ponto a Seleção chegou?

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom e o ditado de introducao entao!!!!!!!

Publiquei no Jornal Achei Canada, ok?

Bjos,
Pri

Anônimo disse...

Espetacular... Parabéns!!!!!!