quarta-feira, 21 de junho de 2006

A polícia faz greve; o bandido não pára

"Todo homem luta com mais
bravura por seus interesses
do que por seus direitos."
Napoleão Bonaparte

Quem de alguma forma viveu o período da ditadura no Brasil, a última, nascida na madrugada do dia 1º de abril de 64, deve ainda lembrar como as polícias agiam, coordenadas e competentemente, para colaborar com a manutenção do regime anti-democrático. Agora, as polícias agem, cada uma por si, para garantir seus ganhos salariais. Para tanto, recorrem ao democrático instrumento da greve, greve que tantas vezes tais instituições ajudaram a debelar.
E ainda hoje, quando movimentos de trabalhadores saem às ruas, são as polícias quem os reprime. Há, portanto, uma incongruência, no mínimo. Os policiais deveriam mostrar solidariedade para com os demais grevistas, sempre e quando estes se mobilizem.
Estou usando o termo no plural, pois há a polícia federal, a polícia civil e a polícia militar. Isso sem levarmos em conta a Agência Brasileira de Inteligência, que substituiu o velho Serviço Nacional de Informações.
Entendo que o policial, pelo menos os civis e os militares, ganham mal; talvez o mesmo não se possa dizer da polícia federal. Entendo que correm risco pessoal na defesa da sociedade, mas a paralisação do aparato de estado que prioritariamente se volta à prevenção e repressão às mais diversas formas de criminalidade, é algo perigoso e de alguma maneira termina por contribuir para com a ação dos criminosos.
Ainda bem que os tempos são outros e as polícias não se prestam mais ao serviço de descobrir e prender quem pensa. As polícias atuam contra quem precisa de polícia, salvo o caso de greves ou passeatas, quando voltam a cumprir seu papel histórico, de repressão.
Na verdade, a questão vai mais fundo. A greve das polícias, que volta a se postar, revela de alguma maneira a falência do Estado brasileiro em, até mesmo, atender às reivindicações daqueles que em última instância farão valer a presença daquilo que a História consagrou como sendo o Poder, aquela capacidade de alguém fazer impor sua vontade, especialmente no plano institucional.
O Estado brasileiro, em sua tessitura, apresenta-se esgarçado e age de maneira pontual, resolvendo conjunturalmente problemas sociais que são estruturais. E, a persistir esse estado de coisas, com os policiais cristalizando uma cultura grevista numa instituição que deve estar 24 horas atenta ao crime, estará criada uma situação perigosa, uma vez que funcionários públicos autorizados a usar armas estarão nas ruas reclamando em favor de seus interesses.
O Estado brasileiro deve remunerar bem aos policiais, para que eles não venham a se confundir com bandidos.

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