quinta-feira, 8 de junho de 2006

A barbárie como prática política

"Existem verdades que a gente
só pode dizer depois de
ter conquistado o direito de dizê-las."
Jean Cocteau

A invasão da Câmara dos Deputados por uma multidão de baderneiros ligados ao Movimento de Libertação dos Sem-terra, mesmo recebendo repúdio da opinião pública nacional pela falta de respeito ao Poder Legislativo, permite e até obriga a uma reflexão: ações como essa misturam, confundem num só grito o comportamento desordeiro com as legítimas reivindicações democráticas.

E por quê? Pelo fato simples de que o Congresso Nacional perdeu o respeito próprio permitindo, por uma espécie de gravidade social, que escorram até as suas salas as mazelas de grupos marginais aos movimentos sociais, escorados num raciocínio primário: quem não se respeita, não merece ser respeitado.

Ao atacar a Câmara, a horda gritava contra os deputados acusações como "mensaleiros", "corruptos", "ladrões". É aí que está o perigo: um Congresso desmoralizado, um Congresso coalhado de políticos inconfiáveis, termina por atrair para si, literalmente, os seus iguais.

E as violências morais que o Congresso tem assacado contra a nação, sofrem uma espécie de metáfora social perversa e se transformam em violência agenciada por um grupo de desordeiros.

Mas é preciso preservar a instituição legislativa. Não se pode conviver com os ataques impunes ao Legislativo. Há salvação, sim. O processo histórico pode nos levar a ter algum dia a democracia representativa manifesta nas ações de um Congresso íntegro.

Por enquanto, lamentavelmente, o País convive ora com a ação dos bandidos contra os agentes da lei, como ocorreu há cerca de 15 dias em São Paulo, agora com a ação de desordeiros contra quem faz as leis.

Ao fundo, um grave problema histórico baliza o quadro: a péssima divisão de renda que provocou uma estrutura social danificada por uma situação de pobreza, miséria, fome, rede de serviços públicos ineficaz e uma cultura que faz o povo buscar nos pés de jogadores de futebol a graça que a vida lhe nega em saúde, trabalho e pão.

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