segunda-feira, 15 de maio de 2006

O silêncio dos inocentes

"Nossa geração não lamenta tanto os crimes dos
perversos quanto o estarrecedor silêncio dos bondosos."
Martin L. King

A frase do Dr. Martin Luther King resume à perfeição a crise de autoridade e de competência do Estado brasileiro em reprimir exemplarmente a ação brutal de criminosos. A leniência vai desde uma legislação frouxa e que tende a facilitar a volta de criminosos hediondos ao convívio social, até à lentidão com que as forças da lei e da ordem estão se organizando.

Os bandidos em S. Paulo, agora, além de ataques a bases policiais, estão se voltando contra ônibus e bancos. O objetivo é bastante claro: querem implantar o caos, desestabilizar a sociedade, disseminar o terror. Muitos presídios estão sublevados e aparentemente não há no horizonte um indicativo de quando a baderna será posta sob controle.

Há uma real e efetiva demonstração de força dos criminosos organizados, há uma inequívoca indicação de que tais atos implicarão outros e, da parte do Estado, somente conversas, reuniões, e, claro, a resistência possível da polícia paulista.

Entretanto, o País conta com cerca de 3.000 soldados da Força Pública do Exército e 4.000 mil homens da Força Nacional de Segurança, um grupamento civil integrado por policiais de vários Estados. São tropas de elite, capazes de enfrentar com o poder de fogo necessário a ação bárbara dos criminosos descontrolados. Por que essas tropas não foram acionadas?

Não nego que estou redigindo este artigo movido pelo mais forte sentimento de indignação: não é mais possível ao cidadão comum, o homem do povo, eu, você, qualquer um, conviver em silêncio temeroso e quase reverencial com bandidos da pior espécie.

São eles pessoas sem qualquer sentimento de compaixão, piedade, misericórdia ou respeito pelos direitos humanos. O bandido é um ser despido de humanidade. Ou melhor: o bandido é um ser vestido com as mais ornamentadas e vistosas filigranas que a brutalidade humana concebeu ao longo do tempo. O bandido é a humanidade vestida de sangue.

Não vou negar que as deploráveis condições sócio-econômicas nacionais são a causa primeira, a matriz geradora do banditismo e da criminalidade. É preciso uma ação social séria, de desdobramentos históricos profundos, a fim de reverter-se tal situação. E isso somente será possível com uma justa distribuição de renda, freando-se também o apetite pelo lucro ilimitado, que no Brasil tornou-se uma epidemia.

Mas, no momento, vivemos uma situação real, objetiva, sensível no medo, no pavor que desperta e que já obteve repercussão mundial. Não há como rejeitar que é preciso haver uma reação vigorosa em defesa do cidadão. Silenciar, em nome de qualquer doutrina de ademanes anunciadamente humanitários para com os bandidos, é agir com ingenuidade ou má fé.

Meu entendimento é esse: é preciso reagir: mas, enquanto isso não acontece, ocorre o seguinte: entre os apetites do nosso capitalismo que criou essa situação, e a descontrolada brutalidade dos bandidos, fica o cidadão pobre, o trabalhador, que sofre as conseqüências. Sofre calado, e em toda a plenidute, o silêncio dos inocentes.

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