terça-feira, 25 de abril de 2006

É o medo... é o medo...

Quem não luta pelos seus
direitos não é digno deles.
Rui Barbosa

De repente, você se descobre vivendo numa casa com janelas e portas gradeadas; de repente, até mesmo apartamentos estão gradeados. De repente, é o medo que se fez força espalhou-se entre nós. Problemas de má distribuição de renda, rápido e descontrolado processo de urbanização, falências de modelos de comportamentos, mudanças na estrutura familiar que deixou de ser um referente forte de mundo, e estamos aqui, imersos na convivência com o medo.

E aí surgem os condomínios fechados, lugares que se voltam sobre si mesmos, como se fosse possível fugir da violência do mundo. Morar num condomínio fechado, desses de segurança máxima, representa uma das mais vigorosas demonstrações da tentativa humana de fugir daquilo que nós mesmos construímos: uma sociedade de medo, cheia de conflitos, habitada por crises.

E essas comunidades de segurança, luxuosos claustros de conforto, são uma tentativa de evitar-se o mundo, como se fosse possível estar-se num lugar que está fora de todos os lugares.

Mas também é verdade é que nas ruas a insegurança corre lado a lado com os automóveis. E quando você estaciona o carro, corre o sério risco de um assalto, de ter o seu carro roubado ou o toca-CD arrancado com brutalidade.

Quem mora em apartamento tem medo de morar numa casa, quem mora numa casa arranja logo uma cerca elétrica e tenta se fechar. As pessoas parecem não perceber que isso apenas combate, ou tenta combater, os efeitos da violência, a restrição dos atos do criminoso, mediante medidas preventivas.

As causas da violência são sociais, decorrem do tipo de sociedade que construímos: valores, padrões, comportamentos de exclusão, cujas conseqüências redundaram na violência. Junte-se a isso a presença incompetente do Estado para promover políticas públicas de inclusão social, aliada à sua incapacidade de prevenção e repressão ao crime e temos a fórmula perfeita para o império do medo.

E, se é preciso ter para com o criminoso um olhar de humanidade, não se pode transigir com o crime, sob pena de nos tornarmos todos cúmplices ativos da cilada do medo.

3 comentários:

renatamar disse...

Em um mês passei por duas experiencias de roubo. Não é nada agradavél! Não consigo ter um olhar humano para com essas pessoas que me tiraram algo que foi conquistado com muito suor
(ainda bem que não me machucaram, isso seria pior!)

Resultado: estou mais desconfiada, com muito mais medo e indignada. E inconscientimente acabo desviando das pessoas na rua, evitando carregar certas coisas .. na verdade não somos nós que temos que ter um olhar mais humano para o ladrão. Ele é que tem que ter um olhar mais humano conosco e em vez de nos roubar ir procurar algo melhor pra fazer.

Anônimo disse...

Grande Emanoel, foi com imenso prazer que lí essa sua pequena reflexão sobre a tão famigerada cultura do medo disseminada entre os quatro cantos do país. Gostei da maneira que se posicionou, indicando que a mesma tem diversas origens. Um fenômeno dessa importância merece ser tratado com acuidade e sensibilidade, e isso sei que tens de sobra. A violência urbana é só um dos ingredientes que colaboram para nossa sensação de insegurança. Se ela não existisse encontraríamos outro motivo para nos escondermos entre grades e evitarmos o contato com "estranhos".

"As grades do condominio são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que está nessa prisão"(M. Yukka).

Anônimo disse...

Amigo Emanoel, leio diariamente sua página, e considero os temas que aborda de grande importância para o leitor: na área política; no cotidiano da vida ,que aborda tão bem em "É o medo..."; ou transcrevendo crônicas que lhe são enviadas e com muito bom gosto as publica. Parabéns pelo seu trabalho. Zilda