quarta-feira, 15 de março de 2006

Ze de Nuca: não foi cachaça, mas ficou tonto...

"Seu doutor uma esmola
a um homem que é são,
ou lhe mata de vergonha,
ou vicia o cidadão."
(Luís Gonzaga)

De Edgar Manso recebo este causo. Edgar gosta da vida no sertão e está preparando um livro relatando coisas e casos do povo nordestino. O autor preserva o modo e o jeito de falar, bem típico do nordestino do campo. Leia abaixo:

Toda cidade pequena tem suas peculiaridades, e as do nosso interior nordestino não poderiam ser diferentes. Jacaraú, no nosso vizinho estado da Paraíba é uma dessas pequenas cidades. Pequena mas muito agradável, faz divisa com o Rio Grande do Norte, ali pelas entranhas do nosso agreste, quase colado com Pedro Velho, cidade do balneário mais animado dos domingos.

Zé de Nuca é um amigo que tenho por aquelas bandas, amigo de verdade. Cabra bom, trabalhador, honesto e muito inteligente, não teve estudo mas é formado na universidade da vida com menção honrosa.

Zé é um homem de seus 56 anos mas tem uma energia de menino, poucas pessoas tem a disposição dele para trabalhar, e se depois do trabalho aparecerem umas garrafinhas de cachaça paraibana escoltadas por galinhas caipiras abatidas na hora, aí é que o serviço do homem rende.

Um pouco afastado de Jacaraú existe um lugarejo denominado de Jerimum. São seis ou dez casinhas fincadas no meio dos canaviais, um verdadeiro oásis para quem vem trafegando naquelas tortuosas estradas carroçais e seco para bebericar e jogar conversa fora.

Nesse verdadeiro paraíso funciona o bar de dona Francisca, o estabelecimento serve a melhor galinha caipira que já comi até hoje, sempre regada a uma boa cachacinha. O local é totalmente familiar, dona Francisca cozinha, suas duas filhas servem e seu marido, o internacionalmente conhecido "Quincão Buceteiro", providencia o abate das galinhas, a retirada dos cocos e a segurança do ambiente, afinal de contas o elemento usa na cinta uma peixeira meio graúda que se não matar da furada mata do "tétuno", como ele gosta de dizer.

Como não poderia deixar de ser, onde tem ingredientes como matutos e cachaça, tem marmota também. Zé de Nuca até o ano de 2004 nunca tinha ido a médico, tinha uma saúde de Leão, quando era indagado sobre quando faria o famigerado "exame de prósta" ele se alvoroçava e dizia: "No meu furico ninguém chafurda!"

Em março de 2004 houve um bolão de vaquejada no vizinho município de Rio Tinto, Zé não corre mais, mas ainda gosta muito de participar da fuzarca. Foi nessa noite que aconteceu uma das estórias mais engraçadas que já ouvi.

O bolão começou ao meio-dia do sábado e nessa hora lá estavam Zé e seus dois filhos mais velhos que praticam esse esporte nordestino, logo acharam a cabroada e começaram o tirinete de cana, conversa vai conversa vem e chega a noite, hora dos vaqueiros bons entrarem na pista, todos se arrumam perto da cerca para ver melhor, a poeira cobre no centro, é queda de boi, queda de vaqueiro cambão, boi na faixa e a ritumba entra pela madrugada.

Lá pelas três da madrugada Zé de Nuca se afasta para dar uma mijada do outro lado da cerca, quando termina e pensa em voltar para junto de seus amigos ele se sente mal, ele não faz a menor idéia do que seja pois havia parado de beber logo cedo portanto não era efeito da cana.

Então, se sentindo muito mal ele resolveu dar o recado aos filhos que já ia para casa, quando foi passar por entre os arames da cerca não conseguiu se manter equilibrado e passou na maior dificuldade. Zé estava sendo acometido por um AVC, nunca passaria isto pela sua cabeça, e ele continuou na sua intenção de se despedir.

Quando ele chegou próximo da turma seu filho se virou e achou ele com a cara estranha: - O que é pai? Zé tentou responder e não conseguiu, só fez balbuciar e não disse nada, aí ele resolver fazer um gesto indicando que já ia embora e partiu.

Graças a Deus Zé de Nuca conseguiu dirigir até em casa e sua mulher solicitou rapidamente uma ambulância para levá-lo à João Pessoa e deu tudo bem. Mas o melhor da estória ainda está por vir: quando o filho de Zé voltou pro meio da turma logo perguntaram onde estava Zé de Nuca, aí seu filho respondeu: - Hômi, pai é foda. Tava tão embriagado que num conseguia nem falar, gemia, gemia e num dizia nada. Só sei que se virou e saiu as queda pra pegar o carro. Ô hõmi trabaioso!!!.

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