quinta-feira, 16 de março de 2006

Quando a terra é boa

“E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...”
(Mário Sá Carneiro - 1890/1916 - Portugal)

Quem olha o sertão sofrido, seco, cansado, faminto, se não conhecer o Nordeste, chega até a pensar que aqui é o país da tristeza. Mas quem conhece o sertão chovido, terra molhada e boa, sabe bem das belezas que lá existem.

Sertão é tradição, é luta, é poesia que brota do chão que traz em si um celeiro de fartura.Em junho, nas festas de São João, comemora-se com alegria inteira a dádiva do milho, a memória popular revivendo antigos rituais de vida amiga da terra.

Quando a terra é boa, o chão é semente ritual. E terra boa é terra molhada da chuva de Deus.Mas hoje a realidade é um drama, fenômeno natural atiçado pela displicência política, pela falta de decisão, pela modorra dos eternos gabinetes que olham e calam, sem olhar para o povo que clama trabalho e pão.

O sertão é uma grande espera, dizia Guimarães Rosa. Mas esperar é atitude de sábio, de quem encontra em si as forças necessárias e urgentes para enfrentar incertezas e medos. E vencer; mesmo que a vitória demore, como as chuvas que tardam, mas um dia chegam. Vão chegar.

Nenhum comentário: