segunda-feira, 20 de março de 2006

Birimba e a égua

"Matamo três soldado,
quatro cabo e um sargento.
Cumpadre Mané Bento,
só faltava tu."
(Jackson do Pandeiro, em forró)

Trago mais um dos Causos do Edgar. São sempre histórias com personagens do povo, gente do sertão, com a marca da autenticidade nordestina, em seus dizeres e falares.

Hoje me lembrei de um rapaz chamado Roberto Moura do Nascimento, nome bonito, tão bonito que nunca poderia ser pronunciado sem constrangimento pelos seus companheiros de trabalho na Fazenda Umbuzeiro, por esse motivo muitos só o conheceram pelo não tão belo apelido de Birimba. O porquê dessa alcunha é ignorado até mesmo pelo proprietário do nome.

A Fazenda Umbuzeiro fica no município de Passa e Fica, próspera cidade do agreste potiguar vigiada pela imponente Pedra da Boca, que apesar de pertencer ao município de Araruna - PB, foi adotada e é venerada pelos passifiquenses. Além das belezas naturais, a cidade de Passa e Fica é exímia produtora de cabras presepeiros.

Marmotas e fuleragens são infindáveis por lá. Não precisa nem ser natural da cidade, basta morar lá um tempo e ter na genética uma predisposição para fuleragem que o camarada já se torna protagonista de presepadas de todo tamanho. Birimba chegou na Umbuzeiro em março de 2005, trazido por mim que na época gerenciava todas as atividades da propriedade para cuidar dos eqüinos e iniciar alguns animais na sadia atividade da vaquejada.

Eu já conhecia o trabalho do elemento pois ele morou um tempo na granja de Madílson, vulgo Neninha, motorista e amigo da nossa família. Meu único medo na época era pelo fato do rapaz ter uma relação um pouco tumultuada com cachaça, o bicho tinha um "óido" tão grande das "marvada" que não podia ver uma que já queria acabar com ela... bebendo é claro.

Fiz as devidas recomendações sobre o comportamento exigido pela empresa e sobre as punições aos atos que viessem a prejudicar o bom andamento dos trabalhos e lhe dei um voto de confiança. Pois bem: alguns meses se passaram e num sábado qualquer desses aí, haveria um bolão de vaquejada no vizinho município de Serra de São Bento, do amigo prefeito Chico de Erasmo.

Logo na quarta-feira Birimba me pediu autorização para participar do evento e levar um animal da fazenda, como a folga dele era no domingo e eu também estaria por lá pois também gosto da brincadeira, liberei o intrépido rapaz para que ele se preparasse hepática e psicológicamente.

O bolão foi um sucesso, Birimba até se classificou para disputar o prêmio em dinheiro mas não obtesse sucesso. Já era um pouco tarde e procurei o indivíduo para irmos embora, minha preocupação era que Birimba "infiasse a cara na cana", enlouquecesse em cima da Serra e resolvesse descer voando lá de cima.

Quando eu o encontrei ele ainda estava sóbrio, pelo menos estava falando, respirando e se mexendo, já eram ótimos sinais numa situação como aquela. Quando o chamei para irmos ele me alertou que precisava ficar mais um pouco para embarcar os cavalos no caminhão e "gerenciar" todo o processo. Ele estava certo, é necessário cuidado nessa hora: inocentemente, deleguei essa responsabilidade ao prestativo funcionário e desci para Umbuzeiro.

Ao acordar no domingo, tomei café, e saí para dar uma fiscalizada na fazenda, estava tudo tranquilo... esse era o grande problema... perguntas não saíam da minha cabeça: onde estará Birimba? Será que deu tudo certo na volta? Será que ele bebeu muito? Todas as respostas eu tive quando resolvi descer até os estábulos . O infiliz do Birimba tinha acabado de chegar, estava "bebo cego", e como todo bebo tem uns raciocínios inexplicáveis, ele resolver dar banho numa égua que nem tinha ido ao bolão.

Quando eu chego no local da peleja vi uma cena tão engraçada que nem tive condições de repreender o ato de irresponsabilidade de Birimba. Estavam lá, de baixo para cima, nessa ordem: o pé de Birimba (descalço), o casco da égua (em cima do pé descalço), a égua, a orelha da égua e preso nessa orelha estava Birimba, mordendo com toda força e pendurado como se fosse um brinco.

O mais engraçado de tudo é que em vez de tentar empurrar o animal (o de quatro patas) para sair de cima de seu pé, o máximo que ele conseguia fazer era dizer com a voz um pouco obstruída pela orelha da égua:
- Sua frexaaaaaaada, você me pegou aí em baixo mas eu le lasco aqui em cima!!! Tá ouvindo?

Como não estaria? O cabra com a boca socada nas "oiça" da coitada. Até hoje não sei se aquilo era um problema de manejo ou, se os dois fossem gente, uma briguinha de namorados.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá professor!

Acabei de mandar um email pro senhor no e.barreto@ufrnet.br . É uma entrevista sobre os blogs entre a comunidade jornalística de Natal, para a disciplina Jornalismo Imprensso, do prof. Duarte. Aguardo sua resposta!

Muito obrigada desde já.