Bolsonarismo como doutrina de ódio
Por Emanoel Barreto
O que se convencionou chamar de bolsonarismo
como fenômeno político apresenta em suas vertentes mais obtusas um
comportamento agressivo, pautado num raciocínio tosco, binário, com tendência a
atos de violência, podendo chegar ao homicídio, como já ocorreu.
O bolsonarista típico não
apresenta argumentos a favor do seu ídolo, antes parte para a agressão verbal a
qualquer pessoa que dele seja divergente e vê em Lula não um adversário, mas um
inimigo. Sua compreensão é de que não há uma campanha política, mas uma briga.
É preciso entender que o
comportamento violento de certos grupos radicalizados é resultado de convicções
que apontam o outro como um alguém a ser se necessário até mesmo eliminado. Para
tanto, a justificativa é que o outro é um obstáculo, um oponente, não alguém que
discorda civilizadamente da opção do bolsonarista.
Os procedimentos violentos, ao se
repetir, tornam-se como que uma liga, um traço de união na alcateia, uma atitude
a ser copiada, quase que uma marca comportamental, um padrão de qualidade
estúpido a ser conferido à brutalidade. A atitude de manada instrui o
indivíduo, que naturaliza tais atitudes e passa, se entender necessário, a agir
segundo o que viu no seu aliado.
É como se a linguagem da
violência fosse um discurso, cujo enunciado é “não há adversários, existem inimigos”
– e inimigos devem ser eliminados, até mesmo no sentido mais extremo do que
seja eliminação quando se consubstancia a morte do adversário político. É a
isso que estou chamando de bolsonarismo como doutrina de ódio.
Os atos de fala são substituídos
por gestos de barbaridade e se perpetram via socos e pontapés, quando não com
tiros e morte, como já ocorreu. Já li no noticiário que pessoas estão com medo
de ir votar ante a possibilidade de serem vítimas de agressões; seja de forma
direta, seja como vítimas que lamentavelmente passavam no local onde se dava a agressão
e foram atingidas como efeito colateral.
Bolsonaro já está dizendo que se
o TSE agir como lisura ele vencerá no primeiro turno. Mesmo uma análise de discurso
superficial já perceberá que ele está insuflando a massa para que saia às ruas
quando, presumivelmente, mantidas as atuais tendências das pesquisas, ele
estará amargando a derrota no primeiro turno.
A doutrina do ódio existe em ato,
mas em sua forma larvar se manifesta em pronunciamentos como o anteriormente
mencionado e funciona como motor potente para dar estímulo a que seus
seguidores mais radicais estejam unidos e saiam às ruas prontos para refrega e
reação.
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