Pro inferno o novo normal
Por Emanoel Barreto
Quando nos idos de março a
pandemia configurou-se definitivamente como situação alarmante e em processo de
crescimento houve um recuo social em busca de alguma forma de salvação ou pelo
menos evitação do contágio e do perigo real e iminente de morte para muitos.
Esse recuo, que foi chamado de
isolamento social, suscitou na imprensa um farto material que ia de informações
a respeito de jogos eróticos para enfrentar o tédio até sugestões de filmes na TV
e apresentações de músicos em lives.
Em meio a tudo isso surgiu a
expressão “novo normal” a ser vivido na fase pós-pandemia. Esse novo normal,
suspeito, seria decorrente do surgimento de um “novo brasileiro” – mais cauteloso,
amadurecido, consciente de suas responsabilidades para com a sua vida e a vida
dos demais.
O isolamento teria o condão de
levar as pessoas a refletir a respeito do sentido da vida pelo reencontro no
lar em pacífico e aconchegante convívio.
E daí surgiria o novo normal com suas
regras de convivialidade, cuidados e precauções quanto à proximidade, prudência
em aglomerações, e até mesmo um certo recato nos cumprimentos para que
todos pudessem retomar suas vidas e vivê-las em paz e caprichada coexistência.
Mas o que temos visto é que nem o
novo normal nem o novo brasileiro aludido neste texto estão surgindo. A peste, vou
chamá-la assim, fez com que durante algum tempo as pessoas se compenetrassem da
importância de impedir sua disseminação e morticínio. Contudo, o tempo passado
em casa não levou a maioria das pessoas à compenetração e à sensatez.
Muito ao contrário o que se viu
foram os bailes clandestinos e multidões desesperadas por algumas horas nas
praias mesmo que ao custo da morte de muitos dos que ali estavam. As pessoas
não suportavam a si próprias em sua solidão, isolamento, equilíbrio interior, sensatez,
prudência. Resumindo: as pessoas não suportavam esperar para viver.
E preferiam se meter no mundo, na
rua, nos bares, mesmo que correndo o risco. Minha vida por uma rodada de chopp,
tornou-se uma espécie de lema.
Mas não foi apenas no Brasil, com
nossa malandragem e ginga inconsequente.
Oropa, França e Bahia, só para pegar
um gancho em Ascenso Ferreira, também seguiram esse caminho e o novo normal não
surgiu.
Atualmente já se fala numa lenta,
muito tênue queda nos casos de contaminação e morte no país. Foi o sinal, o apito, o
chamado para aumentar o regabofe – vamos todo mundo para a rua. E como
segunda-feira é feriado, dia da pátria’mada salve,salve, vamos todos para a
praia que ninguém é de ferro.
E pro inferno o novo normal.
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